“Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Este é um ditado que pode servir de modelo para o que ocorreu nos últimos anos com os ingleses do Anathema. Finalmente o grupo voltou a pisar em terras tupiniquins, após shows cancelados em anos anteriores. Vincent Cavanagh (voz e guitarra), Daniel Cavanagh (guitarra), Lee Douglas (vocais), e os portugueses Daniel Cardoso (bateria) e Tobel Lopes (baixo) trataram de afastar qualquer “urucubaca” existente e fizeram um dos shows que figura entre os fortes candidatos a melhor do ano em São Paulo.

Texto: José Antonio Alves
Fotos: Bruno Bergamini

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Um público ansioso e bem numeroso aumentava as filas nos arredores do Carioca Club, e já se preparava psicologicamente para uma noite que deixaria muitos deles com sensações que só a música é capaz de proporcionar. E se tratando de Anathema, a emoção era certa, atualmente o grupo foca suas composições com alguns flertes de doom e progressivo, mais calcados no Rock Alternativo, um pouco distante daquele grupo que fizera o clássico “Serenades”, de 1993 com o vocalista Darren White e que nos mostrava um Death/Doom que tornou o álbum um dos marcos do estilo.

Com o tempo, surgem mudanças de formação, de sonoridade, e assim chegamos a 2012, com o álbum “Weather Systems”, mais recente trabalho do grupo que fez seu papel ao trazer composições com uma roupagem moderna e uma sonoridade mais leve. E quando a casa ficou cheia e os presentes clamaram pela banda, lá entraram eles no palco, às 20h20, já saudando o público e iniciando com “Untouchable part I” e “Untouchable part II”, faixas de abertura do já citado mais recente álbum da banda.

Sob palmas do público, Vincent Cavanagh trazia um vocal repleto de carga emocional, que logo era acompanhado pelo público e também por sua parceira vocal Lee Douglas, que demonstrou todo seu talento e voz em um dueto mais que emocionante. Não há como ficar indiferente a fusão perfeita entre uma bela melodia e uma letra que faz com que o ouvinte viaje pelos mais longínquos e desconhecidos caminhos da mente humana.

Mais uma de “Weather Systems“ veio na sequencia, “The Gathering Of The Clouds”, que contou com mais uma performance impressionante da vocalista Lee Douglas e também do extrovertido, performático e competente guitarrista Daniel Cavanagh pedindo palmas durante a canção e chegando mais perto do público em vários momentos. Antes de “Dreaming Light”, o baixista português Tobel Lopes tratou de anunciar a canção, dizendo que Vincent pediu para o público cantá-la junto com ele. Pedido feito, ordem acatada, e lá estava a galera entoando cada verso da canção.  Versos como “De repente, a vida tem um novo sentido”, provocavam imagens mentais que sem dúvida tocavam aqueles fãs fervorosos do grupo que já traziam algumas lágrimas na face.

“Deep”, faixa do álbum “Judgement” de 1999 quebrou um pouco a melancolia presente e agitou o Carioca Club, em uma das grandes execuções da noite. Do mesmo álbum logo depois veio “Emotional Winter”, uma passeio nas passagens mais progressivas da banda que fizeram daqueles pouco mais de cinco minutos uma grande viagem que certamente ocasionou sensações de difícil compreeensão. “Wings of God” enalteceu o talento de Daniel Cavanagh com grandes riffs em um instrumental que soava perfeito para os ouvintes (mesmo que em alguns momentos os integrantes da banda pedissem algum pequeno ajuste no som).

“The Beginning and the End” é uma das minha favoritas de “Weather Systems”, e ao vivo sua performance foi simplesmente belíssima, de emocionar e nos colocar entre um plano alternativo que somente a música nos leva. Passando pelo álbum “A Natural Disaster”, de 2003, a faixa título e a moderna “Closer” deram sequencia ao show de uma banda que se mostrava muito feliz com aquele que para os próprios foi um dos melhores da turnê.

Daniel Cavanagh pergunta se no público todos estão contentes, e com uma resposta mais que positiva, anunciou que ainda restavam cerca de dez músicas do set preparado para a noite (mesmo sendo menos que isso). Nem haviam transcorridos muitos dos acordes de “A Simple Mistake” quando a banda simplesmente parou de executar a canção por uma fã da platéia que começou a passar mal e foi imediatamente retirada do recinto para atendimento médico. Passado o susto, a mesma faixa foi reiniciada e tocada com maestria, já preparando psicologicamente os presentes para a parte final do show (e que parte!), mas antes passando ainda por “Internal Landscapes”, faixa do mais recente álbum do grupo.

Até havia comentado antes do início do bis que agora viria a melhor parte do show. E este fato se concretizou. A partir dali era hora de revisitar “Alternative 4”, de 1998, um álbum que hoje é considerado um dos grandes trabalhos da discografia do Anathema. “Shroud Of False”, “Lost Control”, “Destiny” e “Inner Silence” mostraram toda a intensidade e atmosfera depressiva presente em cada um dos versos das canções que foram aclamadas pelo público com grande vibração. Era hora de sair de mais um “plano alternativo” depois daquela verdadeira viagem ao desconhecido…De arrepiar mais mesmo somente o coro dos fãs em “One Last Goodbye”, algo que sem dúvidas marcou na mente dos presentes que se guiaram pela emoção e protagonizaram não um último adeus, mas sim um banho de lágrimas escorrendo pelos rostos que ali estavam…

Nem deu tempo para os fãs se recuperarem psicologicamente daquela última sequencia que foi arrebatadora, “Parisienne Moonlight” trazia mais um show de interpretação e emoção de Lee Douglas em mais uma ótima performance. Para lavar a alma, “Fragile Dreams” fechou a apresentação com chave de ouro e seu refrão cantado com intensidade por aqueles que gastavam suas últimas energias nesta grande viagem que foi o show do Anathema.Terminava uma das apresentações mais bem produzidas e organizadas deste ano, com uma banda que mostrou perfeito entrosamento e performance em palco condizente com um dos grandes nomes do estilo a qual pertence. Certamente se você é fã do estilo empregado no primeiro trabalho da banda e se deparou com um set que deixou este álbum de fora, provavelmente pode ter se decepcionado, mas é inegável que a execução e interpretação das outras canções em palco foi digna de nota dez. Que esse show tenha expulsado de vez as energias negativas que impediam a banda de tocar por aqui, para que não demorem tantos anos para mostrar aos brasileiros o espetáculo que foi proporcionado neste 13 de outubro de 2013.

Agradecimentos a Costábile Salzano Jr. e Agência Sob Controle pela atenção e credenciamento.

Setlist:
1 – Untouchable, Part 1
2 – Untouchable, Part 2
3 – The Gathering of the Clouds
4 – Lightning Song
5 – Thin Air
6 – Dreaming Light
7 – Deep
8 – Emotional Winter
9 – Wings of God
10 – The Beginning and the End
11 – A Natural Disaster
12 – Closer
13 – A Simple Mistake
14 – Internal Landscapes

Bis:
15 – Shroud of False
16 – Lost Control
17 – Destiny
18 – Inner Silence
19 – One Last Goodbye
20 – Parisienne Moonlight
21 –  Fragile Dreams