O Stress nasceu no ano de 1974, em Belém. Considera-se a primeira banda de Heavy Metal do Brasil, numa época em que gostar de Rock era sinônimo direto de transgressão, além de (ou talvez por causa de) ser um fato de pouca incidência. Tendo como cenário uma cidade provinciana e na qual predominava o modismo midiático e as raízes musicais da região amazônica, a banda enfrentou embargos como o isolamento geográfico da região, somado a um agravante doloso chamado Ditadura Militar, entre outros obstáculos que dificultaram a fluência de seu trabalho, mas que não impediram suas realizações.
Na época ainda sem nome permanente, a banda se chamava Pingo D’água, referência ao formato do bumbo da antiga bateria “Pingüim”. Sem trabalhos autorais de início, executava covers de Rolling Stones, Nazareth, Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple. Seu line-up original contava com Wilson Mota (guitarra), Paulo Lima (baixo), André Chamon (bateria) e Leonardo Renda (teclado). A entrada de Roosevelt Bala nos vocais aconteceu 2 anos depois.
As primeiras apresentações aconteceram em 1976, quase sempre em festas de aniversário e festival escolares. Todos eram bastante jovens e totalmente isentos de ambições profissionais com a banda, apenas pretendiam tocar entre amigos, por diversão. No fim daquele ano, a primeira mudança na formação: a saída de Paulo Lima e sua substituição por Wilson no baixo, além da entrada do guitarrista Pedro Valente, que era visto como um músico acima da média e permitiu ao Stress alçar um vôo mais alto.
Em 1977, aconteceu o primeiro show de fato. A partir desse passo, a banda, já renomeada para Stress, começou a arrebatar admiradores que, naquele momento, não tinham alternativas para ouvir aquele tipo de música, exceto os discos que, quando ocorria de chegar às lojas de Belém, era sempre com atraso e preços exorbitantes.
Os shows da banda se tornaram ocasiões oportunas para que os “roqueiros” (então assim chamados os fãs, quando o termo “headbanger”, próprio dos anos 80, simplesmente inexistia) se reunissem e trocassem informações sobre álbuns, bandas, e para que firmassem amizades perenes, dando os primeiros vestígios da cena coesa que hoje existe no Rock/Metal paraense. Os integrantes também se mantinham apoiando a emergência do underground e ajudavam na venda de ingressos, divulgação com cartazes e demais mídias impressas, camisetas pintadas à mão, entre outros materiais. Com isso, o Stress começou a atingir um público cada vez maior e seus shows tinham a necessidade de acontecer em lugares cada vez mais amplos.
Mas foi em 1978 que começaram os primeiros trabalhos autorais, com as letras inicialmente em inglês e influências de bandas como Judas Priest, Motörhead e Saxon, tendo a declarada intenção de ser a mais rápida e pesada das bandas. Acontecia com freqüência de perguntarem aos músicos o que cada letra queria dizer, dificuldade devida ao idioma em que eram escritas. E não tardou para que o Stress reescrevesse as letras em português, que seria o idioma das demais composições dali em diante; letras essas que abordavam temas sociais e críticas severas ao sistema, sendo alvo da censura do regime da época.
Em 1979, com a entrada dos membros do Stress na faculdade, a freqüência dos shows diminuiu, embora sempre muito bem produzidos. Outras bandas locais também tentavam seu lugar ao sol e os tomavam como exemplo de determinação, algo que continuou acontecendo na cena local mesmo após seu temporário encerramento, como foi o caso do Morfeus, banda surgida em 1988, um ano após a parada do Stress, como veremos adiante.
Em 1982, com a saída de Wilson Mota, Roosevelt Bala assumiu o baixo. Aquele era um ano de escolha para a banda. Havia chegado o momento de lançar um álbum e Belém não oferecia suporte necessário para tal. Foi nesse ano que o Stress rumou ao Rio de Janeiro com o intuito de gravar seu primeiro disco, esbarrando em dificuldades de produção do trabalho, além dos custos de viagem e de que não se tinha “know-how” para gravações de Heavy Rock, onde os técnicos de som tentavam “limpar” o som das guitarras por considerar que as distorções se tratavam de qualquer problema nos equipamentos.
O primeiro registro da banda foi gravado em 16 horas. As músicas, apesar da baixa qualidade de gravação, foram responsáveis por posicionar o Stress como banda respeitada no país. De volta à terra natal, o Stress lançou seu debut no Estádio Curuzu, tocando para aproximadamente 20.000 pessoas.
Considerando que poucas cópias foram produzidas, o álbum logo viraria um item raro. Uma dessas cópias foi ouvida por um produtor da Rádio Fluminense, no Rio, e logo Oráculo do Judas estava na programação, tornando a banda conhecida em âmbito nacional e fazendo os fanzines anunciarem “a primeira banda nacional de Metal”.
Com a crescente freqüência dos convites para shows no Rio de Janeiro, o Stress acabou se mudando para a cidade em 1983. Algo novo estava acontecendo naquele ano. O movimento “Rock Brasil” tomava seu espaço, iniciado no Circo Voador, templo clássico do Rock oitentista brasileiro, pela produtora Maria Juçá. Esta, após conhecer o trabalho do Stress, propôs o lançamento da banda em um evento semanal. Foi nele que o guitarrista Paulo Gui estreou, substituindo Pedro Valente. Num segundo evento, tocaram as bandas Stress, Água Brava e Dorsal Atlântica, ocorrendo também a exibição de um vídeo inédito do Iron Maiden (provavelmente o clipe de The Trooper ou Flight of Icarus), obtendo recorde de bilheteria. Infelizmente, Paulo Gui não pode continuar, sendo substituído por Alex Magnun, quem trouxe consigo o baixista J. Bosco para complementar a formação, ambos vinham da banda carioca Metal Pesado.
Em 1985, veio o segundo álbum, Flor Atômica e, diferente do seu antecessor, este foi lançado em grande escala pela Polygram e fez com que o Stress se apresentasse em todo o eixo Sudeste, além de ter tornado constante sua presença nas mídias especializadas.
Aquele era, de fato, um excelente ano para o Metal no Brasil. Terminado o regime ditatorial, as portas finalmente se escancaravam para que a latente (e até então sufocada) cena brasileira tivesse seu contato com as demais do exterior. Ano do aclamado festival Rock in Rio I, considerado marco vital por ter aberto caminho para apresentações de bandas lendárias como AC/DC, Iron Maiden, Whitesnake, Queen e Scorpions, e ter definitivamente marcado o Brasil como rota certa para shows internacionais. Era também o ano de estréia do gigante Sepultura, com seu Bestial Devastation, parte do split lançado juntamente com seus conterrâneos do Overdose. O Rock Pesado no Brasil gozava de uma força sem precedentes.
Mas chegou um momento em que as gravadoras passaram a preferir bandas de “Rock” com guitarras sem distorção. Foi nessa ocasião que o Stress passou a ser negligenciado pelo mercado fonográfico, por não adequar seu trabalho às novas exigências. Com isso, embora as apresentações continuassem, não conseguiam gravar o terceiro álbum, tendo que encerrar temporariamente suas atividades em 1987.
Passados 9 anos desde então, André Chamon, Roosevelt Bala e Paulo Gui se reúnem em Belém e gravaram um CD, Stress III, em 1996, com uma tiragem mínima de 500 cópias, metade da reprodução do primeiro álbum, tendo seu lançamento em Belém e no Rio.
Em 2003, o selo Dies Irae reedita o primeiro álbum em LP e CD para distribuição na Europa, sendo aclamado pelo crítico Boris Kaiser, da revista alemã Rock Hard.
Depois de um longo período de ressaca, o Stress finalmente retorna aos palcos e grava seu primeiro DVD ao vivo. Esse episódio impulsionou artigos nas revistas carro-chefe da mídia especializada brasileira, tais como a popular Roadie Crew, Valhalla e a tradicional Rock Brigade, sendo notícia inclusive na grande mídia televisiva.
Já em 2007, a banda foi alvo de tributo no programa Stay Heavy, em São Paulo. A notícia foi divulgada no site Blabbermouth.net e chamou a atenção do antropólogo canadense Sam Dunn, diretor de Metal: a Headbanger’s Journey, que teve a iniciativa de registrar cenas de um show do Stress e incluir no material bônus do segundo documentário, o Global Metal.
Além dele, o selo Metal Soldiers também nutriu interesse pelo trabalho e lançou o álbum Live ‘n’ Memory na Europa, e prevê que seja relançada a discografia completa da banda com bônus track, tendo o álbum de estréia o novo nome Amazon, First Metal Attack!
Está previsto também o lançamento do documentário Brasil Heavy Metal, no qual o Stress será destaque. O doc contará a história do estilo em solo brasileiro, sendo a música tema do projeto composta pela banda pioneira. Além do DVD, o material incluirá um CD com a participação de vários artistas, além do lançamento de um livro e até game.
Há quem diga que Stress foi a primeira banda de Thrash Metal do mundo. Especulações à parte, não há dúvidas de que foi a primeira do Rock Pesado nacional, numa época em que se conhecia, no máximo, a nomenclatura “Heavy Rock” e em que a senha para uma amizade verdadeira era “ei, cara, tu é roqueiro?”
Conheça o trabalho e mais detalhes da história do Stress no Myspace:
http://www.myspace.com/stressbrasil
Categoria/Category: Bandas Nacionais
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