Adriano Villa: Histórico e retorno
Postado em 05/03/2010


Adriano Villa, poeta e escritor que transcreveu a peça “Hamlet” de Shakespeare em poemas para 19 bandas de metal interpretarem. Um dos mais audaciosos projetos nacionais que contou  com bandas consagradas no metal nacional como DELPHT, TORTURE SQUAD, ETERNA, SPAGGA, SYMBOLS, IMAGO MORTIS, HANGAR, contou  também com  a participação de André Matos. Também já trabalhou com Edu Falaschi  e Leandro Caçoilo entre tantos outros.
Ele  escreveu a “história” do álbum “After Twilight” do TROPA DE SHOCK, que segue uma linha conceitual de ficção científica, juntamente com a banda.
Nosso entrevistado de hoje tem um gosto musical que vai de Megadeth à Ze Ramalho, de Metallica à engenheiros do Hawaii…
Na literatura admira Marion Zimmer Bradley, Érico Verissimo, José de Alencar, Jorge Amado, Clive Baker e Stephen King. É letrista, guitarrista e vocalista. É também designer gráfico, fez capas de  dvds para a Warner. Enfim A Ilha do Metal  entrevistou  uma grande figura do meio artístico. Essa mega entrevista escrevi com a ajuda da musicista Cássia Diascânio.

Ilha: Obrigada Adriano pela entrevista. Podemos começar? Temos muito que conversar.

Adriano Villa: Eu que agradeço.

Ilha: O álbum William Shakespeare´s Hamlet foi um marco na história do metal brasileiro. Conte como surgiu a este projeto? Como foi o processo de composição?

Adriano Villa: O Hamlet foi,quer dizer,é um grande marco no metal nacional, dizer no passado seria assumir que é um trabalho datado, quando, na verdade, ele é algo que ficou para a história como a obra em si. A iniciativa do projeto se deu da mesma forma de outros, simplesmente do nada. É interessante pensar como as idéias surgem, eles apenas nascem e cabe a nós procurar meios de tirá-la do plano de idéias e trazê-la para a realidade. Neste ponto, entra a Die Hard  (gravadora) que tornou esse processo algo físico. Quanto ao processo de composição, foi árduo, devo confessar. Eu havia lido a peça antes de começar o processo, mas com caráter de entretenimento e conhecimento. Quando surgiu a possibilidade de transformá-la em letras, as coisas mudaram de figura. Foram alguns meses lendo e relendo e assistindo ao filme exaustivamente. Eu não sabia exatamente como escrever as letras. Não podia simplesmente sair escrevendo, precisava de uma explicação, de um ponto de partida, de algo que tornasse as letras algo sequencial. Lembro que fiquei pensando nisso durante dois meses inteiros. Foi quando tive a idéia de escrever as letras pelo olhar de Horacio, amigo do príncipe. As coisas tomaram seu rumo e em menos de dois meses toda a peça estava transformada em letras.

Ilha: Quais os critérios usados na escolha das bandas que participaram do álbum? Você deu orientações sobre como os poemas deveriam ser musicados ou deixou livre para que as bandas fizessem como bem entendessem?

Adriano Villa: Não fiz parte do processo de seleção das bandas. Na verdade, não curto muito a parte burocrática dos trabalhos; prefiro estar na frente do computador ou sobre um caderno. Esta parte a gravadora cuidou, desde a escolha do estúdio até a forma que iriam gravar. Eu apenas escrevi as letras e dei alguns palpites, como no caso da música “To Be”.


Ilha: Ainda sobre Hamlet, e a “To Be” que foi  a música de encerramento do álbum. Ela  foi a música que menos sofreu alterações de poema para se tornar canção. Como foi compô-la em especial?

Adriano Villa: O que poderia falar de uma letra que escrevi com um carinho e completa dedicação. Ela é especial, pelo contexto e também pela liberdade como a escrevi. Esta foi a última letra que foi escrita para o projeto e foi escrita sobre o balcão da DieHard. Irei contar a história de uma forma resumida: Depois da finalização, entreguei as letras para a gravadora, eles leram e sentiram falta da frase mais famoso da peça “ser ou não ser, eis a questão”. Eles me questionaram por que havia a deixado de lado e expliquei o porque. Neste momento da peça Hamlet forja uma loucura para poder descobrir o que acontecera ao rei, e uma personagem que vê tal encenação do príncipe é Polonio, pai de Ofelia e Laertes. É uma parte delicada de pura filosofia delirante e disse que não vi forma de escrever tal parte. Então ofereci escrever uma letra com a idéia principal, sem usar as palavras do autor e usar apenas a frase “ser ou não ser, eis a questão”. Foi assim que nasceu a To Be. É uma letra minha com um pouco de Shakespeare. Tenho um carinho muito especial pelo trabalho inteiro, pois foi um dos meus primeiros trabalhos no metal nacional.


Ilha: Qual a inspiração para escrever  o suspense ainda não lançado A Casa de Ossos?

Adriano Villa: Qual inspiração para escrever o suspense A Casa de Ossos? Um ótima pergunta. Eu também estou me perguntando agora sobre isso… (risos) Escrever é algo que faz parte de mim, graças a Deus. É um presente maravilhoso, transcrever meus sentimentos e tudo mais que deseje. Tanto A Casa de Ossos quanto meus outros romances nasceram em situações determinadas e que me envolveram completamente.


Ilha: A banda VersOver lançou seu último trabalho “House of Bones” inspirado no seu livro A casa dos Ossos. Conte-nos como se deu essa parceria e qual sua opinião sobre o resultado final do álbum?

Adriano Villa: Só tenho uma palavra sobre esse cd: Simplesmente maravilhoso. Gosto muito dele, há muita energia e profissionalismo. Acredito que ainda não chegou o momento dele explodir, mas está chegando. É um trabalho sincero onde, ao ouví-lo,consegue-se sentir  o amor colocado em cada riff, em cada harmonia e em tudo. Esses são ingredientes para um disco de sucesso, no entanto, nem sempre temos o mesmo tempo para compreender. O contato da obra foi interessante e em um momento que ninguém simples
mente esperava. Foi numa tarde onde o pessoal do Hamlet estava fotografando. Eu e o pessoal do Versover fomos embora juntos, juntamente com  o Fabio Laguna. Neste meio tempo o Gustavo perguntou no que estava trabalhando atualmente (naquela época) e contei a história da Casa de Ossos. Ele pediu para ler quando terminasse e essa história acabou onde todos conhecem. O livro ainda não foi lançado e estou procurando editoras que apostem nesta história, espero um dia encontrar. Se alguém conhecer, por favor, me apresente pois já corri para todos os lados.


Ilha: Qual a relevância da internet nos seus trabalhos? O que você acha do download grátis?

Adriano Villa: Bom, tenho dois pontos de vista, como banda, eu não estressaria muito pois visaria meu sustento com shows. Contudo, pelo lado escritor, eu acharia ruim pois escritor não faz turnê. Imaginem ficar sentado ouvindo alguém lendo um livro? Deve ser terrível. Não tenho nada contra o download grátis, desde que existam formas das pessoas que gostam da banda ajudar no trabalho da mesma. Indo aos shows e apoiando por exemplo, pois músicos também são pessoas que precisam comer, pagar contas e etc.

Ilha: Quais as dificuldades encontradas pelos escritores ainda não lançados no Brasil?

Adriano Villa: Ótima pergunta… Infelizmente, vi muitos escritores desistindo de seus dons pela dificuldade de lançar seus trabalhos. Todos escritores querem ser lidos, por isso escrevem. São idéias colocadas num contexto e deixados para a posterioridade. Eu também poderia parar pela dificuldade, mas tenho um caso de amor com  tudo isso. Meus planos de ganhar dinheiro, é com meus romances e não com os poemas, música. Infelizmente para lançar um livro é super complicado. As pessoas não costumam apostar em novos autores; mas sim naqueles que são conhecidos e indicados e esses acabam ofuscando e frustrando aqueles que estão na corrida pelo lançamento. Hoje em dia, continuo escrevendo, mas trabalho em uma empresa para garantir meu sustento. Quem sabe um dia, se eu ver meus livros lançados, ficarei feliz, mas, se não puder, ficarei feliz ao saber que meus filhos poderão usufruir dos resultados de minhas obras.

Ilha: A Casa de Ossos foi colocada em um site que imprime por demanda? Como funciona?

Adriano Villa: Isso mesmo, depois de pensar muito, coloquei o livro a disposição neste site, o processo é simples, você entra no clube de autores, procura por autor, coloca meu nome e escolhe A Casa de Ossos. Eles imprimem um exemplar e mandam para o endereço da pessoa. Isso pode trazer bons frutos. Se o livro tiver uma boa aceitação do público, alguma editora pode se interessar pelos meus trabalhos. A Casa de Ossos é meu segundo livro escrito, tenho mais sete além dele.

Ilha: O que  você tem feito ultimamente, e o que os fãs podem esperar para o futuro?

Adriano Villa: Bom, passei por problemas particulares e me afastei um pouco dos meus trabalhos, mas agora estou retornando. Tenho dois novos projetos para realizar, um deles esta terminado mas é destinado para uma linha mais White Metal e a outra é voltada para o Heavy metal mas com… Bom, não vou falar dele agora… (risos). Garanto que, se conseguirmos transformar esse novo projeto em realidade, ele será algo incrível e complexo. Quanto aos meus livros… Pretendo começar meu nono romance que terá uma linha diferente dos outros trabalhos. Será uma aventura com direito a espada e a monstros, mas sem deixar de lado o terror. Se você pensou que virá algo como o Senhor dos Anéis, acertou, mas não sou tão bom quanto o Tolkien então não esperem um mundo ficticio. Minha história se passará nos dias de hoje. Bom, torçam para que alguma editora lance meus trabalhos, assim quem sabe poderão ler. No que se refere a música, depois de muitos anos tocando metal, estou querendo mudar um pouco meus ventos, estou querendo partir para trabalhos nacionais e me dedicar ao metal como letrista ou desenvolvedor de projetos. Devo ter, por ai, uns cinco projetos sendo desenvolvidos.

Ilha: E você cobra alguma coisa para desenvolver esses projetos? Se tiver alguma banda interessada como eles devem fazer?

Adriano Villa: Não cobro absolutamente nada, a não ser que meu nome seja mencionado e incluido ao trabalho. E tem várias formas de trabalho, no caso do Versover, as letras foram baseadas no meu livro. Houve outras bandas que seguiram o mesmo rumo. Perguntavam se  eu tinha alguma idéia interessante e eu mostrava a que achava mais interessante para eles, ou desenvolvia algo exclusivo, dependen do que a banda quer. No caso do Tropa de Shock, eu escrevi um livro dando ligamento para as letras de seu novo albúm, foi um trabalho interessante e que teve um ótimo resultado.Este é outro livro que, se um dia sair, espero que seja bem sucedido pois acredito que vale a pena.

Ilha: Deixe um recado para os  seus fãs e leitores da Ilha do Metal.

Adriano Villa: Recado para os fãs? E eu tenho fãs? Quem me dera. Deixo um recado para os leitores. Agradeço por terem lido minha entrevista e aproveito para dizer que, sem o apoio de vocês e o carinho de muitos, muitos artistas já teriam parado suas atividades. Não há nada mais gratificante do que uma outra pessoa se identificar com seu trabalho. Por isso, meu recado é: continuem apoiando os artistas que vocês gostam. Eles precisam de vocês. Vocês não são apenas fãs que vão em shows e que ficam balançando suas cabeças e cantando, mas são o seu combustível. São vocês que tornam o trabalho gratificante e que dão alma e significado. E se conhecerem alguma editora, por favor, me indiquem. Por que hoje em dia tenho acreditado que, o que importa não é o talento mas sim o Q.I., ou seja, quem indique. Que Deus abençõe a todos.

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