Entrevista: Alex Voorhees do Imago Mortis comenta sobre o retorno
Postado em 05/02/2011


A banda brasileira de Doom Metal Imago Mortis retorna as atividades depois de 2 anos parados. Para celebrar sua volta a banda se apresentou final de janeiro no Teatro Odisséia no Rio de Janeiro, tocando o seu álbum de maior sucesso “Vida: The Play Of Change”.
O blog Wildchild realizou uma entrevista exclusiva com o vocalista Alex Voorhees, comentando sobre o retorno aos palcos, sua carreira solo e também um pouco sobre a história do Imago Mortis. Confira:

Imago Mortis

Olá, gostaria de agradecer a oportunidade á entrevista e também parabenizar pelo retorno da banda.
Primeiramente gostaria de perguntar sobre o retorno da banda. Bem, após quatro anos sem apresentar nos palcos cariocas, qual foi o verdadeiro motivo que incentivou a banda a retornar aos palcos?
Alex:  A banda havia terminado mesmo, por volta de 2008. Na verdade a banda estava hibernando, pois alguns integrantes não tinham mais tempo para as atividades envolvendo o Imago Mortis, eu mesmo também não tinha. Fizemos um ultimo show em Cabo Frio, no Festival Rock Humanitário, em 2008. Desde então, o Imago Mortis não fez mais nenhuma apresentação. E acabou. Porém, isto foi anunciado oficialmente apenas este ano. Porém, durante este tempo fui percebendo que minha vida estava muito chata, muito tediosa. Faltava algo. Descobri então que eu não vivo sem a arte. Sofri perdas terríveis no ano de 2010. E, a maior delas foi a morte do meu filho Alexandre Júnior, aos 20 anos… Uma doença grave e fatal. Um dos pedidos dele foi que eu voltasse com a banda. Desde que a música voltou a minha vida é como ver a luz voltar a um mundo de sombras. Eu percebi outra coisa. A música, a arte, tem uma parte importantíssima em minha vida. Só quem realmente é artista compreende, as pessoas leigas e alienadas, robotizadas pelo sistema, acharão bobagem isso, pois só pensam em dinheiro e dinheiro. Não há nenhum dinheiro no mundo que pague a sensação de poder me expressar artisticamente.
E, pensando também sobre dinheiro, prefiro inclusive gastar dinheiro com a arte (sim, não sobrevivo disto) do que gastar dinheiro com psiquiatras, remédios e psicólogos. Eu não vivo sem a arte, sem a música.
Para retornar ao palcos vocês escolheram o álbum “Vida: The Play Of Change”, por que esta escolha?
Alex: Este foi o nosso trabalho mais significativo que eu acredito que o Imago Mortis tenha atingido sua maior qualidade sonora. Há muita sensibilidade neste trabalho, é artístico, nem um pouco preso a rótulos. Uma pessoa que utiliza de preconceitos dificilmente consegue assimilar, soa deveras estranho, pois ela está acostumada que o artista soe como outros. Não queremos soar como mais ninguém, queremos soar como Imago Mortis. Havendo uma troca de integrantes significativa outra vez, o que é normal em uma banda em que o nome carrega a morte, em que a metáfora maior é a MUDANÇA (The Play of Change) fazer este concerto, além de unir um desejo antigo tanto meu quanto das pessoas que nos acompanham é conveniente para que a nova formação assimile completamente a essência do melhor do Imago Mortis, inclusive para que sirva como base para futuros trabalhos.
Imago MortisNo ano de 2008 você lançou o seu álbum solo comemorando os seus 20 anos de carreira, mas lembrando que ele apresenta ser diferente de seu trabalho no IMAGO MORTIS, a banda serviu de experiência para este álbum? E poderá servir de experiência para o Imago Mortis em seu retorno?
Alex: Para não deixar passar isto em branco, resolvi pegar material antigo que eu nunca havia gravado (caso da faixa Voice From Within, de 1995 e que era da minha ex-banda Dust From Misery) e misturar com novas faixas (Rise e Master of Desires) e lançar apenas na internet, no myspace além de disponibilizar para download. Eu estava interessado em mesclar mais o tipo de música que eu fazia no início da minha carreira com um pouco do que estava escutando na época (2008), sem soar datado, utilizando de uma roupagem atual. Não há nenhuma grande novidade em se tratando de sonoridade ,mas são boas faixas para quem gosta de um som mais pesado, até mesmo extremo, é bem Old-School. Acredito que sejam boas músicas, inspiradas e fortes, apoiada por uma banda profissional, de músicos experientes. Este trabalho não é relacionado ao Imago Mortis nem trará algo para a sonoridade futura da banda porém para uma pessoa com bom ouvido musical perceberá uma certa referência.
Bem, um assunto mais relacionado ás tradicionais perguntas dos fãs, o que influenciou a banda a trabalhar firmemente sobre o tema relacionado á morte?
Alex: Morte é simplesmente o maior acontecimento de nossas vidas, um grande mistério e a musa dos filósofos. Também representa uma grande metáfora para mudanças. Sempre nos interessamos por este assunto, assim como os dilemas existenciais.Vida e morte são os opostos que se definem. Acredito que só poderemos realmente compreender o que é a vida depois de termos morrido. Na condição de seres vivos, estamos presos a uma perspectiva e não podemos enxergar a vida com a isenção e o desapego necessários para formar uma opinião consistente. Seria como caminhar pelas ruas de uma cidade e depois subir em uma montanha para ter uma visão panorâmica de tudo aquilo. Infelizmente, não podemos nos afastar momentaneamente da vida para depois voltar e definir o que vimos, mas nós tentamos chegar perto disso compondo este disco. Tenho a convicção de que a morte é o acontecimento mais importante nas nossas vidas, podendo ser comparado apenas ao nascimento ou ao momento da concepção em si.
Quais mudanças você acredita que a banda apresentará no retorno comparado ao seu início?
Alex: Mudança de sonoridade devido a novos integrantes. Estamos trabalhando no sentido de resgatar a sonoridade do Imago Mortis da época do Vida e um pouco também da época do Images, buscando maior sensibilidade e mais feeling. Temos um naipe de músicos experientes e, com certeza, muito versáteis podendo abranger todas diferentes nuances que se desenvolvem nas nossas músicas.Sempre há um tipo de mudança, mas a essência do Imago Mortis sempre estará presente.
E sobre o lançamento de um novo álbum para comemorar o retorno da Imago Mortis?
Alex: Existe a possibilidade sim, de um novo álbum mas não será algo especial ou comemorativo. Temos um material escrito muito interessante, conceitual e há trechos de melodias, idéias para o encarte. Toda a parte conceitual do material está pronta, assim como a pesquisa para ele realizada. Desde 2006 que os primeiros esboços deste novo trabalho começaram a ser delineados e agora nos encontramos na parte final, de criar as melodias e grande parte delas está pronta, porém estão ainda aqui na minha cabeça.
Partindo para uma pergunta mais generalizada, como você observa o gênero Doom Metal no cenário musical brasileiro?
Alex:  Doom Metal? é como qualquer outro estilo que se restringe em rótulos: pequeno. Existem ótimas bandas e eu respeito suas decisões em seguir gêneros e estilos.A minha escola artística é mais abrangente e no que tange a estilos, rótulos e gêneros eu simplesmente ignoro pois meu interesse é apenas a MÚSICA.Eu acredito que rotular o Imago Mortis como doom metal não seja totalmente errôneo pois a própria banda iniciou desta maneira mas sempre demos indícios que nada poderia limitar a nossa criação. Para um próximo trabalho, todos os rótulos serão derrubados.
Imago MortisBem, a banda nasceu em meados da década de 90, uma época que eclodia o chamado grunge e também foi a época que o Heavy Metal ganhava voz no Brasil. A banda passou por algumas dificuldades neste período?
Alex: Como qualquer banda underground, sempre enfrentamos as maiores dificuldades possíveis. Mas, com muita luta e dedicação, encontramos a compreensão que nos mantém livres das amarras de que toda a banda precisa de estrelato, de fama, dos cachês mais altos, dos palcos mais luminosos, de milhares de fãs, groupies e tudo o que tornou o showbusiness um dos maiores equívocos de todos os tempos a milhares de artistas. Nós apenas nos preocupamos em fazer a melhor música que for possível, sincera, pura, ingênua até, de nossos corações e almas. E existe um público que consideramos como parte de nossa família, a irmandade Imago. Estamos seguindo pela motivação pura: a arte e a música. O resto, é consequência.
Agora  voltando novamente para a atualidade: como foi a experiência em retornar ao palcos junto com o Imago?
Alex: Foi uma sensação maravilhosa, indescritível, era como se eu saísse de um túnel muito escuro e encontrasse novamente a luz. Acredito que eu tenha voltado a viver. Pois a música é o que dá sentido a minha vida.
Uma última pergunta: Já estão agendadas outras novas apresentações?
Alex: Estamos em contato com produtores através da nossa manager Rachel Möss e pretendemos levar o concerto Vida – The Play of Change ( executando, na íntegra, o seu trabalho mais bem sucedido Vida – The Play of Change) a várias cidades do país, em apresentações especiais. Serão poucas datas, 13 no total sendo que já realizamos um concerto (até a presente data, 02 de Fevereiro de 2011) então restam ainda 12. Esperamos que muita gente possa nos ver.
Bem agora gostaria de agradecer muito pela entrevista,e também gostaria de desejar muito mais sucesso neste retorno, e saiba também que é uma enorme alegria tê-los de volta.
Fonte: Wildchild.

 

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