Tracklist:
1. Sergio Corbucci is Dead
2. Hate Über Alles
3. Killer of Jesus
4. Crush the Tyrants
5. Strongest of the Strong
6. Become Immortal
7. Conquer and Destroy
8. Midnight Sun
9. Demonic Future
10. Pride Comes Before the Fall
11. Dying Planet
Banda:
Mille Petrozza – Vocals, Guitars
Sami Yli-Sirniö – Guitars
Frédéric Leclercq – Bass
Ventor – Drums
Introdução:
Infelizmente, a segunda metade da década passada viu o reerguer das tendências políticas fascistas, e isso causou o crescimento do obscurantismo: a troca da razão pelo fanatismo cristofascista (onde o Cristianismo deixa de ser uma religião para ser uma prostituta ao lado dos poderosos), a prevalência da moral religiosa acima da legal e dos Direitos Humanos, e o ódio contra tudo o que foge aos padrões de moralidade que, muitas vezes, as pessoas não percebem que nasceram das religiões (como se pode forçar um não cristão a se comportar como um cristão?). Ódio ao movimento LGBTQUIA+, às feministas, aos pobres, às religiões não cristãs, aos povos indígenas, aos afrodescendentes, aos ambientalistas (baseados em ‘fake news’, muitos estão aplaudindo as queimadas e exploração da Floresta Amazônica)… A lista não tem fim.
Assim como na Alemanha Nazista, o ódio se torna legal, institucionalizado. E poucos parecem entender que o preço do extremismo à lá ‘Deutschland über alles’ (‘Alemanha acima de tudo’, trecho do hino alemão e que era um mantra dos nazistas) é muito alto. Recomendo ao leitor procurar ver os números de mortos em Auschwitz-Birkenau, Treblinka, Bełżec, Sobibór ou Majdanek. A história não mente…
Por isso, não é à toa que o KREATOR, um dos pioneiros do Thrash Metal alemão, resolveu usar como nome de seu disco mais recente (lançado no Brasil pela parceria entre a Shinigami Records e Nuclear Blast Brasil) de “Hate Übe Alles”, ou seja, “ódio acima de tudo”.
Análise inicial:
Hoje, o quarteto vem mais uma vez mostrar o motivo de ser um dos pilares do Thrash Metal: usando lições de sua fase inicial brutal (mais voltada ao Death/Black Metal da época), da fase Thrash Metal dos anos 80, dos tempos mais experimentais e do ‘approach’ mais melodioso e bem definido dos últimos discos, “Hate Übe Alles” vai mostrar aos ouvintes mais atentos elementos de cada uma delas (impossível os catadores de piolhos não perceberem em “Midnight Sun” elementos mostrados em “Endorama” na mistura).
Sintetizando: “Hate Übe Alles” mostra o KREATOR com a cara do que se ouve de “Hordes of Chaos” para cá, mas se reciclando, repaginando e mostrando que, mesmo em seus altos e baixos, eles souberam aprender, e muito.
Ah, sim: óbvio que a pergunta ‘como a banda está com o Frédéric Leclercq (baixista que todo mundo só lembra do DRAGONFORCE, esquecendo que ele tem um lado extremo mostrado no LOUDBLAST e SINSAENUM)?’, preocupadinhos com o próprio radicalismo. A resposta é simples: está maravilhosamente entrosado.
Não é à toa que este é um dos discos do ano, e talvez o melhor disco de Thrash Metal de 2022.
Sonoridade/Produção:
Algumas mudanças no time de estúdio são óbvias, pois é a primeira vez que o grupo trabalha com Arthur Rizk (produção, mixagem) e Sascha Bühren (masterização).
O resultado é uma sonoridade definida, com tudo em seus devidos lugares e muito claro. Fica óbvio que há um lado que prioriza a definição e melodias (“Strongest of the Strong” deixa isso claro, pois a timbragem dos instrumentos é perfeita para isso), mas sem que se perca a brutalidade opressiva do grupo (impossível não perceber isso ao ouvir a faixa “Hate Übe Alles”).
Ah, sim: a cantora Pop Sofia Portanet participa em “Midnight Sun” (para mostrar que nem todo mundo vive só de Metal).
Arte gráfica/Capa:
Ah, tá!
Será que é necessário dizer algo além de que é uma arte de Eliran Kantor?
Como sempre, perfeita!
Mensagens/letras:
Em tempos de polarização política, as letras de “Hate Über Alles” é uma serra elétrica nos ouvidos dos ‘headbangers conservadores’ (ainda vão explicar como tal conceito pode existir).
As letras vão sempre de encontro a temáticas sociais: ao não conformismo com o mundo como ele é e não submissão à moralidade religiosa (“Stronger of the Strong” e “Killer of Jesus”), a biográfica “Become Immortal”, e mesmo um murro direto nos dentes de políticos fascistas em “Pride Comes Before the Fall” vão fazer headbangers passadores de pano se contorcerem de ódio ao pensarem ‘banda comunista’, ‘esquerdopata’, entre outros enquanto ouvem com lágrimas nos olhos por não terem coragem de não ouvir.
Músicas:
O caldo engrossa em “Hate über alles” que chega a eclipsar os ótimos “Violent Revolution”, “Hordes of Chaos” e “Gods of Violence” de tanto que é refinado e bruto! A inspiração que flui de suas canções é tocante.
Após a instrumental “Sergio Corbucci is Dead” (um diretor e produtor italiano de filmes italiano que faleceu em 1990), vem “Hate Über Alles”, com um refrão marcante, e é uma canção que retoma o lado Techno Thrash Metal que eles criaram para si no passado (percebam como tanta agressividade ficou bem temperada pelas melodias das guitarras). Na sequência, “Killer of Jesus” mostra a mesma tendência, mas cheia de momentos apoteóticos, com baixo e bateria mostram um peso avassalador.
Já com ritmos mais cadenciados vem “Crush the Tyrants”, opressiva e permeada por melodias cativantes, daquelas que ninguém consegue resistir. “Strongest of the Strong” é um dos Singles de divulgação, logo fica claro que é um dos grandes momentos do disco, e como o refrão é pegajoso, fora as melodias providenciais nos solos e temas de guitarra (e reparem bem como o tom nasalado de voz é uma característica da era experimental da banda).
Mostrando que existe algo além do Thrash Metal para o grupo, “Become Immortal” transpire com influências de Hard Rock clássico e Metal tradicional, e a tendência é que se torne um ‘hit’ nos shows (impossível os fãs não gritarem o refrão). E destilando os mesmos elementos vem “Conquer and Destroy”, embora baseada em tempos mais velozes.
Talvez a mais diferente de todo disco, “Midnight Sun” (outro Single) é sinuosa, um Thrash Metal eclético cheio de momentos mais atmosféricos que são herdados de vertentes da Pop Music europeia (por isso tem algo da época de “Endorama” nela), com melodias excelentes e belos contrastes dos vocais masculinos e femininos. E para contrabalancear as coisas, “Demonic Future” é uma canção furiosa, um Thrash Metal veloz e clássico à lá KREATOR, mas sempre com aquele forte alinhavo melodioso (e que conduções de baixo e bateria).
“Pride Comes Before the Fall” começa amena (inclusive com vozes limpas), mas logo vira um murro Thrash Metal nos ouvidos, evocando o jeitão clássico da banda, mas com uma apresentação moderna. E para fechar a conta, um caos que mixa contrastes cheios de brutalidade e melodias em “Dying Planet”, toda baseada em tempos mais lentos, e com uma ‘riffagem’ de primeira (fora um trabalho ótimo de vocais e backing vocals), uma autêntica apoteose.
O típico disco para se ouvir várias vezes seguidas sem enjoar.
Conclusão:
Pode-se aferir que “Hate Über Alles” coloca o KREATOR entre os melhores nomes do Thrash Metal em atividade, sabendo respeitar seu passado, mas olhando para o futuro.
Ah, você discorda? Sinta-se desafiado a fazer melhor…
Contatos:
https://www.kreator-terrorzone.de
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Selo: Shinigami Records / Nuclear Blast Brasil
Autor: Ph.D. Bones
Categoria/Category: Review de CDs
Tags: Kreator
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