Beast in Black e Nightwish @ Espaço Unimed – São Paulo (14/10/2022)
Postado em 18/10/2022


Nightwish, o início de mais uma Nova Era

Meu ingresso desse show está com a data de 9 de maio de 2020, mas ele acabou acontecendo mais de dois anos após o previsto. Depois de uma pandemia que ceifou milhões de vidas, sendo boa parte delas no Brasil, a verdade é que todos fomos afetados de alguma forma e isso inclui o Nightwish e a turnê atual, do álbum “Hvman. :||: Natvre” (ao qual vou me referir apenas como “Human Nature” a partir daqui), já que tanta coisa aconteceu nesse período.
A primeira e mais impactante mudança, claramente foi o afastamento de Marco Hietala, não apenas do Nightwish como também da música em geral. O baixista e vocalista, que também faria a os shows de abertura da turnê, anunciou sua decisão em janeiro de 2021 e pegou muita gente de surpresa. Com isso, a tarefa ficou a cargo da Beast in Black, banda que eu não conhecia até poucos dias. Confesso, falhei na lição de casa aqui.


O quinteto, apesar das claras influências de Judas Priest, Accept e Helloween, também tem um pé fortemente cravado no Pop Rock, tanto nas músicas realmente dançantes como “One Night in Tokyo” quanto nos refrãos grudentos de “Sweet True Lies”, do tipo que se decora de imediato e no final da música, todo mundo está cantando junto. Durante o show, toda a banda e especialmente o vocalista Yannis Papadopoulos demonstrava a alegria de estar fazendo uma turnê na América do Sul, talvez também por saberem do momento frágil pelo qual passa a nossa economia, que dificulta a vinda de bandas menores para o país, exceto excursionando com artistas maiores ou em festivais.


A banda realmente me surpreendeu, tanto pela energia no palco como por fugir do padrão, principalmente num gênero que não costuma ser muito receptivo à novidades. Também é importante destacar o público presente, muito receptivo com o Beast in Black, que já anunciou a volta à São Paulo no próximo ano, dessa vez no Summer Breeze Brasil, tomara que consigam aproveitar a viagem e fazer mais shows por aqui.


A turnê “Decades” foi a última passagem do Nightwish pelo Brasil, ainda em 2018 e foi muito diferente de qualquer outra. Diferente do período entre 2004 e 2016, todos os discos foram lembrados e nem mesmo na primeira passagem da banda pelo Brasil, lá em 2000, tanta coisa do “Oceanborn” (meu disco favorito) foi tocada. E “Human Nature” mostra a banda em um novo capítulo de sua história, com um novo direcionamento, que não tem sido uma unanimidade nas avaliações mundo afora. É inegável que apesar do tecladista Tuomas Holopainen, compor praticamente todas as músicas da banda, o que molda o Nightwish são os seus (atuais e ex) vocalistas, então devo adiantar que a saída do antigo baixista e vocalista me preocupou um tanto e que considero “Human Nature” o pior disco da banda com alguma sobra, já que gosto de todos outros, portanto, minhas expectativas para o show não eram as mais altas.


Eis que às 22:30, um pouco tarde, mas adequado para uma sexta-feira em São Paulo, o Nightwish entra ao palco com a intro “Music” seguida por “Noise”, primeiro single de “Human Nature” e como eu imaginava, a recepção foi muito boa, a banda tem um arsenal de ótimas músicas de abertura de álbuns/shows e essa é mais uma delas, seguem com “Planet Hell”, do aclamado “Once”, maior sucesso comercial da banda e aqui fiquei um pouco incomodado. Floor Jansen é uma das maiores vocalistas da atualidade e é capaz de cantar praticamente qualquer coisa, desde o metal extremo até o pop, mas a falta de uma segunda voz prejudicou o dueto, ainda mais pelas partes onde os dois cantam juntos. O show segue com “Tribal”, e aqui, Troy Donockley passa a contribuir e muito bem com os backing vocals que no álbum parecem ter sido gravados por Marco, mas não consegui encontrar essa informação.


O show segue com a já adotada pelo público “Élan”, “Storytime”, das músicas dos tempos de Anette que melhor se encaixa à Floor e por “She is My Sin”, talvez a música do set que mais fuja do estilo dela, mas que ainda assim ficou ótima. A sempre presente e chata balada “Sleeping Sun” veio seguida de uma grata surpresa, “7 Days to the Wolves”, do álbum “Dark Passion Play”, que sempre é lembrado nos shows, mas aparentemente não muito querido do público.


Após a pesada “Dark Chest of Wonders”, o teste mais difícil para Troy Donockley, “I Want my Tears Back”, na qual ele também se sai bem, apesar de aquém da performance do antigo baixista/vocalista. Ainda assim, acho que essa música tende a ser muito frequente nos shows daqui pra frente. Chega então a hora do outro show, esse do público, que apesar de ter esgotado os ingressos, não chegou a lotar o Espaço Unimed. Na semana do show, ainda se via muita movimentação nos grupos de vendas de ingressos com gente acabou desistindo de ir, mudando de casa, tendo filhos, literalmente mudando de vida. Não fosse isso, a sequência “Ever Dream” e “Nemo”, cantada a plenos pulmões pelos presentes poderia ter mais vozes ainda.


Floor então pergunta se todos estão com os seus celulares e ao notar a pergunta a resposta óbvia, se corrige e pede para que todos acendam as lanternas antes de “How’s the Heart”, executada apenas por ela e Troy, esse no violão. A primeira parte do show termina com a pouco empolgante “Shoemaker” e “Last Ride of the Day”, essa funcionando muito bem ao vivo.


Pensei que haveria um pequeno intervalo aqui e eu teria tempo para buscar a minha última cerveja do dia, mas veio a impecável “Ghost Love Score”, possivelmente a melhor música da banda, com seus 10 minutos que passam num piscar de olhos e que seria o encerramento perfeito para o show, mas ainda tinham tempo para a exagerada “The Greatest Show on Earth” que mesmo sendo tocada sem as partes IV e V, ainda teve 17 minutos de duração. Particularmente, acho que teriam uma resposta melhor se só a parte III fosse tocada ao vivo, especialmente pelo seu coro final apoteótico: “WE WERE HERE!”.


Ao longo desse texto eu pouco mencionei os instrumentistas, não por não serem importantes, pelo contrário, o novato Jukka Koskinen e Kai Hahto que já está com a banda há um tempo foram ótimas substituições enquanto Emppu e Tuomas permanecem excelentes ao vivo, mantendo a banda muito sólida, mesmo após 25 anos na estrada. Por outro lado, assim como a demissão de Tarja Turunen impactou a banda em 2005, é inegável que a saída de Marco Hietala também deve influenciar no direcionamento da banda e se hoje o Nightwish parece diferente do que era há 4 anos, creio que a tendência seja que a banda se aproxime cada vez mais do apresentado em “Human Nature” e nessa noite, com menos peso, cada vez menos vocais masculinos e longe dos vocais líricos dos primeiros álbuns.
Após o término do show e enquanto a banda cumprimentava o público, foi tocado o playback de “All the Works of Nature Which Adorn the World: VIII. Ad Astra”, então Floor retornou ao microfone e cantou a parte dela ao vivo, para encerrar de vez esse grandioso show.

 

 

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