Moonspell – Fernando Ribeiro- “Espero que quando Lula da Silva visitar Portugal em Abril, essa questão  da Imigração seja debatida e prevenida”
Postado em 15/03/2023


Banda muito cultuada e um dos ícones máximo de todos os tempos do heavy metal em Portugal o Moonspell que recém-completou 30 anos de carreira, é atração confirmada no inédito festival São Paulo Metal Fest, que acontecerá na capital paulista no  próximo dia 14 de abril, no Carioca Club (Pinheiros/SP). A realização é da IDL Entertainment, com produção da Powerline Music & Books.

E para entrarmos no clima desse grande evento, batemos um bom papo com o Carismático Vocalista Fernando Ribeiro que nos contou muita coisa da banda, projetos futuros, expectativas para os Shows no Brasil, e até um pouco dos seus gostos pessoais, confira abaixo esse bate papo:

Senhoras e senhores, Fernando Ribeiro

A ILHA DO METAL – ) Primeiramente, muito obrigado por falar com A Ilha do Metal, o Moonspell está comemorando 30 anos de Banda, os fãs podem esperar um set especial? Alguma Surpresa?

Fernando Ribeiro: O verdadeiro especial, nos tempos em que correm, é o facto do Moonspell estar conseguindo fazer esta tour com 6 datas no Brasil, apesar de todas as dificuldades que bandas e promotores estão tendo para realizar os shows. Tudo o que podemos prometer é entrega e emoção total para recompensar o esforço e o apoio dos fãs que virão nos shows. Temos um alinhamento diferente pensado para o Brasil e estamos tentando assegurar um ou outro convidado mas uma viagem no tempo com Moonspell é tudo o que podemos garantir, por ora.

A ILHA DO METAL – ) Seguindo sobre os 30 anos da Banda, ainda existem pelo mundo, muitos colecionadores vorazes de materiais físicos, mesmo na era do Streaming, muitas pessoas ainda preferem os Cds e Discos de Vinil, haverá algum lançamento ao vivo ou algum Box para esse tipo de fã?

FR: Verdade. Nós temos inclusivamente um selo (Alma Mater Records) que criámos para gerir o fundo de catalogo de Moonspell e garantir que as edições saíssem com qualidade mas, infelizmente, nenhum dos nossos parceiros no Brasil nos contactou nesse sentido, nem para fabricar, nem para produzir, nem para importar, por isso só haverá merchandise oficial, mas duvido que existam outras coisas à venda.

A ILHA DO METAL – ) O Brasil, apesar de tão proximo de Portugal em questões históricas, fica bem longe nas questões musicais e também culturais, e por isso, quase não temos notícias da Cena Portuguesa na música pesada. Um exemplo disso foi o Gaerea, uma Banda sensacional, que infelizmente tocou para mais ou menos 100 pessoas aqui em São Paulo, você poderia por favor nos falar sua opinião sobre a Cena Portuguesa e algumas Bandas que você recomenda ou que te influenciaram por aí?

FR – Bem, nós somos bem ligados na cultura Brasileira e é raro artista do Brasil que não encha uma sala em Portugal, mesmo bandas de Metal como Krisiun, Angra, Nervosa, etc. tem muito apoio aqui. Acho que o problema, lamento, é mais do Brasil. Quando começámos a tocar na América Latina, era no Brasil onde tínhamos menos gente e sempre perguntei porquê? De facto, nosso estatuto, se alterou um pouco por causa do álbum 1755 e da participação no Rock in Rio, mas nunca atingimos o estatuto de bandas “gringas”. Existe uma enorme distância sim, os políticos falam muito de irmandade, mas nem um tratado comercial conseguem fazer que ao menos desse para exportar música e cultura. Inclusivamente, eu assinei duas bandas brasileiras para o meu selo Alma Mater Records, Troops of Doom e The Mist, e aos primeiros nem consegui enviar os LP’s de cortesia por causa da alfandega; e o pacote que o mestre Vladimir Korg me enviou com raridades do Chakal e The Mist foi devolvido pelos correios portugueses ao Brasil. Uma tristeza, uma vergonha, desculpe o desabafo.

Quanto à cena Portuguesa, os Gaerea são notáveis e vão crescer muito, o que me deixa orgulhoso. O Metal nacional está vivo desde 1992, 1993 e tem muita banda de qualidade desde os fundadores Tarântula até ao sangue novo dos Okkultist. Tem de todos os géneros desde o metal industrial dos Bizarra Locomotiva ao death metal técnico dos Analepsy, metal sinfónico como Glasya, Metalcore como Wako, Black Metal como Decayed ou Corpus Christi. Basta ir online e digitar metal português e escutar com atenção como nós fazemos com os artistas brasileiros conceituados ou não Wolfheart and the Ravens, Carniçal, Patria, Matanza, e os mestres antigos como Sarcófago, Korzus, Vulcano…

A ILHA DO METAL – )A grande sacada do Moonspell na minha opinião é a forma que vocês mesclam a música pesada e o Gótico. Tanto no instrumental quanto no Vocal sem se preocupar em soar de um determinado modo e no último trabalho da Banda “Hermitage”, isso ficou bem claro. Afinal, como vocês rotulam a banda hoje e o que podemos esperar nos próximos trabalhos?

FR – Boa pergunta, mas eu sou péssimo a rotular Moonspell, tanto que é uma banda que procura sempre expressar o que vai na cabeça, sem olhar a rótulos e misturando influências. Na verdade, nós começámos como metal extremo, tentando emular bandas como Bathory, Celtic Frost, Sarcófago, mas depois descobrimos Type o Negative que veio culminar nossa ligação primordial com o gótico de Sisters os Mercy, Fields of The Nephilim e isso definiu a principal mistura que pode ser encontrada no nosso som. Mas não nos fechámos só por aí, e disco após disco, fomos abraçando novas influências como nossos parceiros da Century Media, Tiamat ou Samael, ou incluso coisas como Depeche Mode (Sin) Nine Inch Nails (Butterfly Fx) entre outros. À falta de melhor termo, penso que Dark Metal nos encaixa bem.

A ILHA DO METAL – ) Por falar em próximos trabalhos há algum em vista ou algumas novas composições há caminho?

FR – Sim, claro. A música nova é muito importante para bandas como nós, por isso estamos a trabalhar para lançar um disco em 2024. Eu desejo apenas um disco simples, de canções que tenham impacto mais imediato, menos camadas que o Hermitage, algo que una os fãs da banda. Conceptualmente, estou a pensar fazer algo simples, um disco dedicado à literatura e à palavra.

Quando este disco estiver pronto, quero muito fazer o sucessor de 1755 em Português.

A ILHA DO METAL – ) Fernando, sou muito fã da sua voz e do seu timbre, e esse seu single lançado com a Liv Kristine chamado River Of Diamonds, prova aquilo que descrevi acima, de como a sua voz serve para o Gotico e Metal, poderia nos contar como surgiu essa parceria, como você aceitou e nos contar o que achou do resultado?

FR – Obrigado. Eu não nasci para cantar, fui-me adaptando e tenho muita insegurança na minha voz, daí aceito poucos convites. Mas eu adoro a Liv, como amiga e como cantora/artista. Mantivemos contacto depois da injustiça que lhe fizeram com Leave’s Eyes e eu lhe dei muito apoio nessa altura. Depois só faltava colaborar artisticamente e isso acabou por acontecer agora, passado todo este tempo e eu espero que eu tenha adicionado algum de bom à canção maravilhosamente doce da Liv. Sairá em breve um vídeo com a minha participação.

Artista: Moonspell | Fotografa: Luna La Chimia | Data: 16 luglio 2022 | Evento: Luppolo in Rock | Città: CremonaA ILHA DO METAL – ) Voltando a Portugal, eu e milhares de Brasileiros somos muito fãs de Madredeus e Teresa Salgueiro, umas das poucas Bandas e vocalistas Portuguesas que estouraram no Brasil, e que é referência para inúmeros vocais no mundo, você acompanha o Trabalho dela ou outras coisas fora do Metal?

FR – Para mim, Madredeus será sempre a melhor banda Portuguesa e a que melhor traduziu a alma de Portugal através da música, só comparável com Amália Rodrigues. Foi essa autenticidade e o profundíssimo talento do Pedro (Ayres de Magalhães) que lhes permitiu ser amados em todos os países do mundo. Foi uma pena a separação e até o facto de não equacionarem uma reunião. Eu continuo seguindo ambas as carreiras, mas sem o Pedro, a Teresa não tem canções à altura da sua voz e carisma. Já os Madredeus continuam a fazer discos interessantes e a Beatriz tem uma ótima voz, quase igual à da Teresa mas falta-lhe aquela aura que a Teresa emprestava à banda.

Eu escuto muita música, de todos os estilos. Por exemplo, o ultimo disco de Dulce Pontes que se chama Perfil é fantástico e iremos colaborar com ela num futuro próximo. Fora do Metal tenho ouvido muito folk galego (Xabier Diaz), o último disco da banda The Gift, Coral, está maravilhoso, adorei o novo single dos Depeche Mode e o ultimo álbum do Arab Strap, por exemplo.

A ILHA DO METAL – ) Gostaria de sua opinião sobre os últimos acontecimentos em Portugal onde Brasileiros estão sofrendo discriminações e até mesmo agressões, pela alta onda migratória no país, isso é uma parcela mais radical da população ou você acha que realmente o País está saturado e não pode receber tantos imigrantes?

FR – Espero que quando Lula da Silva visitar Portugal em Abril, essa questão  da Imigração seja debatida e prevenida, e não se fique pelo protocolo ou corta-fita. Portugal é um destino óbvio para os Brasileiros que são uma ótima comunidade, e que adicionam coisas maravilhosas ao soturno Português. É óbvio que vão haver choques culturais e posso afirmar que essas agressões tem muito a ver com a frustração que se vive na Europa por causa da crise, da perda da identidade, dos interesses económicos mas, na generalidade, nos temos dado bem com os Brasileiros em Portugal e é para mim óbvio que se privilegie e dê uma atenção diferente à imigração Brasileira. É verdade que tem havido um fluxo pesado de imigração para a Europa mas temos todas as condições para estudar o assunto, regular e evitar a clandestinidade, cabemos todos no mundo, quem está a ocupar espaço a mais não são os imigrantes, mas os políticos, os economistas, os gestores que sozinhos consomem os recursos de toda uma população.

A ILHA DO METAL – ) Agradecemos muito a sua atenção Fernando e gostaria de deixar aqui minha admiração por você, uma das figuras mais cultas quando se fala na cena da música pesada mundial. Por favor, deixe uma mensagem para os fãs do Moonspell que irão em suas apresentações no Brasil.

FR – Ora essa, eu é que agradeço e espero que os shows no Brasil sejam maravilhosos! Eu adoro tocar no Brasil, comer nos botecos, ir nos sebos, ver filmes do Zé do Caixão e ouvir Sarcófago, por isso vamos todos celebrar o que nos une e esquecer por uns momentos as angústias do mundo.

Saiba todas as informações sobre essa Turnê Matadora do Moonspell no Brasil,  com detalhes sobre datas e valores dos ingressos abaixo.

 

 

Moonspell no Brasil em 2023

 

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