Por Sigryd Bagon / Foto: divulgação
Das profundezas do metal extremo finlandês, o Plaguebreeder surge com uma proposta sonora intensa, atmosférica e recheada de influências do horror lovecraftiano. À frente da banda está Janette, vocalista, compositora e mulher trans, que conduz o projeto com personalidade, talento e coragem. Em entrevista à A Ilha do Metal, Janette fala sobre a trajetória do Plaguebreeder, as mudanças de formação, os desafios da cena metal e o processo criativo por trás do aguardado álbum de estreia, previsto para o segundo semestre de 2025.
Janette também compartilha reflexões pessoais sobre identidade, representatividade e os caminhos que a levaram a finalmente ocupar seu espaço com orgulho. Uma conversa sombria e inspiradora — como o próprio som da banda.
Bem-vinda à A Ilha do Metal, Janette! Obrigado por aceitar este convite para conversar conosco. É um prazer apresentar o Plaguebreeder ao público brasileiro e conhecer mais sobre a trajetória da banda, o processo criativo e o que podemos esperar do álbum de estreia.
O frio e a escuridão da Finlândia influenciam diretamente o som do Plaguebreeder?
Eu não diria que diretamente, mas acho que isso adiciona alguns elementos atmosféricos ao nosso som e às letras. Eu realmente amo o inverno com muita neve e frio — às vezes pode ser bastante inspirador.
O Plaguebreeder passou por várias mudanças de formação ao longo dos anos, incluindo a transição de dois guitarristas para apenas um. Como foi esse processo e como isso impactou a música da banda?
Janette: Os caras queriam seguir caminhos diferentes na vida e na música, então tivemos que nos separar. Ainda somos amigos, então não houve nenhum grande drama nos bastidores. Nosso baterista Kalmisto sempre permaneceu na banda comigo, e o guitarrista atual, Klaath, está na banda há mais tempo do que os guitarristas anteriores. Temos uma formação sólida e trabalhamos bem juntos. A química entre a gente é excelente.
Essas mudanças de formação afetaram o processo de composição. Com apenas uma guitarra, precisei aprender um novo estilo de compor. Foi assim que surgiu a música I Believe in Misanthropy, e senti que ela precisava de algo a mais, então tentei adicionar partes orquestrais. Fazer arranjos orquestrais não era totalmente novo pra mim, já tinha feito isso em outros projetos e funcionou perfeitamente para o Plaguebreeder. Isso me deu muito mais espaço artístico para criar as paisagens sonoras que eu amo.
O álbum de estreia da banda está previsto para ser lançado no outono de 2025 e traz temas de horror lovecraftiano. Quais são as principais influências da obra de Lovecraft nas letras da banda? Como os conceitos de medo cósmico e insanidade se refletem na música e nas mensagens que vocês pretendem transmitir?
Janette: Tentáculos! Horror! Loucura! O que mais você precisa na vida? 😀
Mas falando sério, eu li muito a obra do Lovecraft no passado e sempre amei. O Klaath também é um grande fã de HP. Tive um bloqueio criativo sério alguns anos atrás e ele sugeriu que eu me inspirasse novamente em Lovecraft — achei a ideia brilhante. Eu já tinha escrito a música Tentacles of Madness lá por 2012, mais ou menos, e ela foi fortemente inspirada nas obras dele. Então foi como voltar pra casa.
Nas Montanhas da Loucura, O Chamado de Cthulhu, A Cor que Caiu do Espaço são, acho, minhas três histórias favoritas. Uso o horror lovecraftiano mais como pano de fundo ou como uma sensação, do que como uma fonte direta de inspiração. Ele também oferece muitas metáforas interessantes, que posso usar para criar clima e significado nas letras. O medo existencial e a insanidade são a espinha dorsal das letras do novo álbum.
Musicalmente, há algumas músicas estranhamente agressivas e insanas, e outras que têm um medo rastejante e uma tristeza nelas. Nas Montanhas da Loucura inspirou a música The Last Raven Circle, e O Forasteiro inspirou Klaath a escrever uma música.
Mudando um pouco o foco para sua trajetória pessoal: você enfrentou resistência ou desafios dentro da cena metal por ser uma mulher trans? Se sim, como lidou com isso?
Janette: Não faz tanto tempo assim que me assumi publicamente, então não enfrentei muitas reações diretas. Claro, isso gerou alguma discussão nas redes sociais, mas isso era esperado. O Plaguebreeder ainda é uma banda pequena e pouco conhecida, então não teve muito impacto. Vai ser interessante ver o que acontece no futuro…
Existe alguma música ou composição que tenha um significado especial para você como mulher trans? Como ela reflete seu processo de transição e sua identidade dentro do metal extremo?
Janette: Escrevi algumas letras sobre esse tema em outros projetos. A mais direta é Soul Dystopia, do Northern Genocide. No Plaguebreeder, há alguns temas escondidos para mim mesma nas músicas Inferno e Tentacles of Madness. Essas músicas foram compostas e lançadas há mais de uma década… então levou muito tempo para eu conseguir me levantar e ser eu mesma, de forma verdadeira e com orgulho. Acho que o metal extremo oferece muito espaço para a expressão artística.
Você tem alguma mensagem ou conselho para outras mulheres trans que desejam entrar na cena musical, especialmente no metal?
Janette: Confie na música, confie em si mesma. Seja forte, mas leve o tempo que precisar. Ouça a si mesma. Seja aberta com seus colegas de banda e cerque-se de pessoas que te apoiam, te amam e em quem você confia. O caminho pode ter muitos obstáculos e ser assustador, mas também pode ser maravilhoso — isso é a vida. O mundo precisa ouvir você.
Quais são os próximos passos para o Plaguebreeder após o lançamento do álbum? Existem planos para shows, videoclipes ou novos materiais?
Janette: Neste momento estou finalizando os arranjos orquestrais e escrevendo as letras do álbum. Depois começo a gravar os vocais neste verão. Depois disso, vem o processo usual de mixagem e masterização, busca por distribuidora ou gravadora e planejamento de marketing… Já temos alguns shows confirmados na Finlândia e estamos planejando videoclipes. Também já existem alguns riffs, ideias e demos de músicas para o futuro… mas primeiro, vamos lançar a fera que é esse álbum de estreia.
Para finalizar, gostaria de deixar uma mensagem para o público brasileiro que está conhecendo o Plaguebreeder agora?
Janette: Bem-vindos ao manicômio dos blastbeats, riffs rápidos, composições orquestrais épicas e vocais insanos! Se você curte bandas como Behemoth, Fleshgod Apocalypse e Dimmu Borgir, dá uma conferida na gente. E claro, ouça nossa música no Bandcamp, Spotify etc., e siga a gente no Instagram e TikTok.
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Tags: banda finlandesa • Janette Ardeath • Plaguebreeder
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