Rolando Castello Junior – Obrigado pelas palavras, realmento o Inox foi uma banda bastante boa e criativa, para mim o inicio se deu a partir de um convite do Segis, para que eu fizera batera numa demo da banda, que ainda não se chamava Inox e sim Operação Fraudulenta, então esse ensaio para a tal demo, que acabou não rolando, foi minha iniciação nas hostes do que viria a ser o Inox.
2- A ILHA DO METAL – O produtor do disco foi Luiz Carlos Maluly famoso na época por ter produzido o Revoluções por Minuto e que muitos diziam que o álbum teria sido gravado no mesmo estúdio, que teria sido gravado até em horas de estúdio que sobrou do RPM etc… qual a importância dele no álbum já que se trata de um grande produtor até os dias de hoje?
Paulinho Heavy Com relação ao estúdio, realmente gravamos no Transamerica, que era o estúdio mais top e caro da época e o escolhido pela nossa gravadora, a CBS. O RPM já havia gravado quando começaram as nossa gravações portanto, não procede a informação sobre as tais sobras de horas. Havia sim, uma divisão de períodos com o Radio Taxi, que gravava o álbum Matriz no período diurno e nós, no período noturno. Com relação ao grande amigo e querido Maluly, nos da banda tivemos uma grande liberdade para a criação e em muitos momentos, pois humildemente reconhecendo naquele momento não ter a intimidade necessária em produzir rock pesado emanado por toneladas de amplificadores valvulados, deixou-nos assumir a produção enquanto produzia os Replicantes nos estúdios da RCA. O Maluly foi uma aglutinador de pessoas, um cara que conseguia transformar qualquer ambiente pesado e tenso, em um leve, carregado por risadas e celebrações. Foi tbm, o cara que conseguiu contemporizar uma decisão arbitrária da gravadora, que havia nos prometido e combinado 200 hs de estúdio e do nada, mandou finalizar o trabalho em 100, motivo pelo qual a voz e as mixagens ficaram muito comprometidas no trabalho geral. Graças a ele, terminamos em aproximadamente 130 horas
Fernando “The Crow” Costa – Tanto o Maluly quanto os técnicos e auxiliares, todos eles pessoas muito legais, jamais haviam gravado nada parecido, tinham a mesma esperiencia que nós, o disco de fato foi produzido por todos nós, mas não se pode negar o peso do nome do Maluly e o conhecimento que ele tinha no meio nesta época. O disco foi gravado no estúdio Transamérica, assim como o do Rádio Taxi, do Tokyo e o nosso, a CBS gravava todos seus artistas lá e esta coisa de horas do RPM eu nunca ouvi falar.
Rolando Castello Junior – Trabalhar com o Maluly, antes de mais nada foi um prazer e também uma honra, eu já era amigo do Maluly quando ele ainda era o guitarrista da banda Lee Jackson e eu tocava bateria no Made in Brazil, fizemos varias gigs juntos com as duas bandas. No estúdio ele foi um cara muito importante em capturar as ideias e sons do Fernando, assim como na pegada geral da banda, tanto na captação como na mix e nunca se meteu nos arranjos e performance, com seu jeito especial, sugestões e contos da estrada, nos manteve produzindo e felizes no estúdio, foram gravações absolutamente sem stress. Na verdade gravamos no tempo programado que tinhamos para gravar, não recordo bem, mas tivemos ao menos uns 15 dias de estudio fechado somente para o Inox, para a gravação de bases e playbacks, nunca usamos horário do RPM, o esquema de gravação e produção do Inox, foi dos mais profissionais e respeitosos a nível artistico, resumindo gravamos com tratamento vip por parte da gravadora.
3- A ILHA DO METAL – Falar do Inox é muito fácil, pois foi meu primeiro Show de Heavy Metal. pois lembro que os conheci no Show de Ourinhos, sendo considerado um dos melhores da até hoje e demorei mais de 6 meses para achar o LP e só o encontrei em Balneário Camboriu e quando achei fiquei tão feliz que comprei os dois que tinham na loja, e segundo dizem o Inox fez apenas 3 shows, São Paulo, Ourinhos e Porto Alegre, o que acham que faltou na época para o Inox, já que a crítica da época sempre foi extremamente positiva.?
Paulinho Heavy Mais uma vez,agradeço pelo carinho de suas palavras. Depois de 25 anos ainda ecoam imagens daquele show na minha mente e na de muita gente que lá estiveram. Muitas delas, ainda falam com saudades daquele evento, que marcou época. Na realidade, fizemos mais shows do que só estes que vc relatou. Mais uma vez, lembro que infelizmente, os meios de comunicação não eram tão fartos como os de hoje . O Inox estreou em um show ao ar livre para mais de 30.000 pessoas por ocasião do aniversário de Caraguatatuba na praia,em um palco com mais de 25 metros de frente. Depois, veio Ourinhos e o Espaço Mambembe em S.Paulo,onde começamos a entender a gravidade do problema que teríamos pela frente, pois não havia local com estrutura para podermos nos apresentar.Devido à imensa expectativa que foi criada,não podíamos estrear em qualquer lugar que não comportasse o uso do nosso equipamento,pois todo mundo já sabia da nossa estrutura e queriam ver os 5 marshalls de guitarra com a parede de falantes gritando ao mesmo tempo. Lembrando que a parede do contra baixo não ficava atrás. O detalhe, é que não havia local prá isto e os que haviam, não queriam arriscar-se em locar para shows de rock e seu publico roqueiro.Os que se dispunham,não ofertavam condições técnicas. Por exemplo,no Espaço Mambembe,ao ligarmos os Marshalls, os disjuntores caiam no teatro todo. Não havia a menor condição de ligarmos ¼ do que dispúnhamos . Descobrimos que eramos grandes demais para o que rolava no pais. Iluminação então,nem pensar…Nosso legado,era nosso calvário. Resolvemos fazer o Araujo Viana em Porto Alegre que era uma arena à céu aberto,onde poderíamos nos capitalizar e seguir uma tournée pelo inteiror de SP. Choveu e tivemos prejuízo enorme. Fizemos um réveillon no Black Jack entupido,onde quitamos as dívidas e mais um Mambembe completamente lotado, mas como os mesmos problemas técnicos com a parte elétrica que não aguentava,mesmo tendo solicitado à LIGHT/Eletropaulo que puxassem a energia diretamente do poste em uma cabine primaria totalmete improvisada… e desistimos, pois conta não fechava. Ficamos de saco cheio da gravadora, falta de espaço prá tocar,empresários tentando nos roubar ou penhorar nosso equipamento junto aos agiotas, cobranças da família por investirmos demais, etc…Tem gente me devendo uma grana alta até hoje.
Fernando “The Crow” Costa – Não faltou nada, de nossa parte nada, fizemos tudo o que uma banda tem que fazer, e fizemos ainda mais, coisas que outras partes não fizeram. Eram outros tempos, o pessoal “independente” torcia um pouco o nariz prá gente porque tínhamos uma gravadora grande, a gravadora tinha seu sistema de trabalho, não gostava do circuito independente, seu negócio era tv, rádio, jabá, sucesso grande, gravadoras nesta época não investiam em coisa pequena, para eles o circuito de rock underground não interessava. No fim o rock que pegou na época era o tal do “rock nacional”, que de rock não tem nada, levinho, meio new wave pós punk, nada a ver com o nosso. Fizemos 8 shows e tivemos que parar porque era muito caro manter todo aquele investimento sem conseguir vender shows, e sem o apoio da gravadora (que sequer cumpriu o contrato que previa outro LP) ficou impossível. Se vc prestar atenção notará que até hoje é assim. Pouquíssimas bandas de ROCK conseguem alguma coisa grande, 3 ou 4 conseguiram em 30 anos.
Rolando Castello Junior – Fizemos mais de um show em Sampa no Teatro Mambembe e no Black Jack, e fizemos o show de Ourinhos e Caraguatatuba, assim como o Araújo Viana em Porto Alegre. Isso de deve ao altos padrões que a banda se havia imposto para as gigs, relacionados a palco, iluminação, equipamento, enfim todos os aspectos de uma boa produção e apresentação de uma banda de rock, ou seja um circuito que não existia e continua não existindo no Brasil, digamos que a banda, equipamento e equipe tecnica estavam mais para fazer shows na America e Europa, do que no Brasil. Tens razão a critica foi muito generosa com o trabalho do Inox, mas convenhamos fizemos por merecer, trabalhamos muitíssimo a nível de ensaios, composição e arranjos, apesar de havermos feito poucos shows, ensaiamos centenas de dias, durante a existência da banda, ademais foi feito um investimento grande para criar uma estrutura física de pessoal e equipamento, que proporcionou as melhores condições possíveis de trabalho para a banda funcionar musicalmente, como veio a funcionar.
4- A ILHA DO METAL – Como é o contato dos integrantes hoje E Já li algumas vezes sobre uma possível volta, já que tantas bandas grandes dessa época estão voltando existe alguma possibilidade de Show de Retorno ou voltarem a gravar algum álbum?
Paulinho Heavy Apesar de termos um belíssimo segundo disco quase pronto desde aquella época, de minha parte, nenhuma chance… Infelizmente, nosso contato nos dias de hoje, limita-se aos “likes” do Facebook Prá isto acontecer, algum empresário capitalista teria que querer muito que isto acontecesse e criasse condições para que isto viesse dar certo, pois caso contrário, eu jamais faria tudo o que fiz novamente. Foi muita dedicação, paciência para administrar egos, investimento de tempo e dinheiro .Um desgaste enorme natural de quem se mete a fazer musica de qualidade em um pais como o Brasil . Portanto, creio ser praticamente impossível de acontecer. Além do mais,o querido Ségis não está mais entre nós e sem aquela pegada, o som do Inox não soaria como deveria… Sinceramente, muito mais do que voltarmos, acho que merecíamos remixar aquele trabalho como deveria ter sido feito. Com mais calma, regravando algumas vozes, usando-se a tecnologia atual em masterização e equalização, etc…seria mais fácil se acontecesse assim.
Fernando “The Crow” Costa – Temos pouco contato, basicamente virtual, cada um leva sua vida, é assim que é, as vezes nos encontramos mas é muito raro. Acho que não voltaremos não, a gente nunca falou nisso, o Ségis faleceu, Acho muito improvável.
Rolando Castello Junior – O contato é esporádico mas estamos juntos nessa história para sempre, continuamos brothers ainda que a distancia ao menos para mim que nem moro mais em Sampa, sinceramente nunca ouvi falar e nem fui sondado para nenhuma volta, e acho que isso nunca passou na cabeça de nenhum de nós, mesmo porque sem o Segis, seria impossível recriar nossa sonoridade. Ainda que não existe nenhum impedimento de um dia fazermos um som, em uma data ou ocasião especiais, principalmente para nós mesmos, para nos divertir e comemorar o trabalho e memórias do Inox, seria muito legal.
5- A ILHA DO METAL – Nos fale um pouco da participação no Brasil Heavy Metal que acho que será o acontecimento do ano no estilo aqui no Brasil?
Paulinho Heavy O projeto do Micka, é maravilhoso. Resta saber se ele e o pessoal da Idéia House conseguirão arrumar espaço para a quantidade de gente que lá foram colocados e se isto representará a realidade e a representabilidade do que realmente aconteceu no movimento Hard & Heavy na década de 80/90. Penso, que uma mini-serie, em vários capítulos seria mais apropriado para formatar toda aquela galera de forma correta, sem ficar superficial ou caricato demais. Estou torcendo para o resultado final dar certo perante ao publico e a crítica. Sempre sofremos com o estereotipo negativo dos metaleiros que a Rede Globo nos impingiu, uma vez que os poucos que conseguiram chegar à mídia, conseguiram cristalizar ainda mais essa imagem por não terem capacidade intelectual para nos representar ou mesmo saberem portar-se frente aos cabeças pensantes da mídia. Vamos ver se com este projeto, com boas entrevistas, os melhores conteúdos, os cortes e edições, consigamos reverter um pouco este quadro perante a opinião pública. Torço por isto…
6- A ILHA DO METAL – Fernando após o Inox em que bandas atuou e qual esta atuando recentemente?
Fernando “The Crow” Costa – Depois do Quantum e do INOX fiz várias participações no Golpe de Estado, uns 20 shows e gravei 4 discos com eles (teclado e Hammond), gravei teclados no disco The Key da Chave do Sol, gravei a intro do Mass Illusions do Korsus, montei o Quantum II (1993) com Paulo Zinner na batera, fiz com Felipe Carvalho o Night Flight Project, produzi a primeira demo do Angra (REACHING HORIZON), produzi a banda Firebox, gravei com o Big Balls do Xando (Hammond), gravei e fiz shows com o Cheap Tequila (Hammond), fiz um projeto prog bem legal com o Edu Garcia do Threat (The Crow & the Crow’s Band) nunca lançado, fundei junto com Edu e Edson Shultz a banda Homeleth, prog, cujo disco está para sair, e recentemente junto com o Ackua, Pedro e Rubinho participei do retorno da Chave do Sol, tocando baixo. Fiz muita coisa mas estas são as mais legais.
7-) A ILHA DO METAL – Como esta o Patrulha do Espaço hoje?
Rolando Castello Junior –Na estrada como sempre, estamos lançando cd novo o Dormindo em Cama de Pregos e agora, de outubro a dezembro de 2012, estaremos fazendo uma pequena tour de lançamento do cd e comemorando os 35 anos da banda, em algumas cidades iremos gravar e filmar as gigs para um futuro trabalho e assim continuamos nesse trampo de resistência pela estrada do rock nacional.
😎 A ILHA DO METAL – Sempre digo que a humildade é para os fora de série e sempre lembramos que após o show de Ourinhos passando pelo hotel que estavam hospedados e ao vermos a banda no Saguão todos vocês nos atenderam com extrema simpatia, e aproveito e pergunto qual a importância dos fãs para vocês, já que hoje muito músicos mantém uma certa distancia deles, e o que acha da cena atual?
Paulinho Heavy Sempre fomos humildes e gentis com todo mundo. Rock’n roll, é festa e festa precisa de gente…foi uma pena não termos conseguido atingir patamares mais altos pois o show business de hoje, certamente seria mais profissional, técnico, menos enganadores, muito mais alegre e sadio do que se mostra atualmente. O que tem de poser botando banca e fazendo merda, é uma grandeza.
Fernando “The Crow” Costa – Eu sou um iconoclasta, detesto idolatria, logo, a humildade e o sentimento do igualdade em relação aos fãs prá mim é fundamental. O fã tem que adorar a música, não o artista, tem que gostar do meu som, não de mim. Não é o que acontece hoje, ninguém mais quer saber de música, o negócio é idolatrar artistas e celebridades, participar da “onda do momento”, no fim das contas o fã é explorado pela esquema e pelo “artista”. Eu não consegui ser assim, e isso me colocou meio fora do mercado.
Rolando Castello Junior – Não posso falar e desconheço o procedimento das outras bandas em relação aos fãs, só sei que em todas as bandas que toquei, a camaradagem sempre foi muito forte entre os membros da banda e equipe tecnica, e essa camaradagem sempre se estendeu aos nossos fãs nas diferentes agrupações em que toquei e toco, afinal de contas sem os fás as bandas não existiriam, costumo falar que não temos fãs, senão amigos e amigas, galera que a gente conhece e faz amizade na estrada, e alguns até acabam se tornando meio que irmãos e irmãs, acaba sendo uma familia bacana de rockeiros.
9-) A ILHA DO METAL – Espaço livre para vocês escreverem o que quiserem para nossos leitores muito deles novos que conhecerão o Inox hoje, outros muito saudosos em relação a grande Banda dos Anos 80.
Paulinho Heavy Estude, leia, pesquise, procure, se interesse, pergunte, compartilhe, divirta-se, ame , trepe, sorria, cresça, creia, desconfie, cheque, tenha sua certeza, vote direito e aumenta que isto aí sempre foi rock’n roll
Fernando “The Crow” Costa – Não acreditem em artistas e em celebridades, crias da indústria, aprendam a gostar de música e de rock de verdade, não essa porcaria POP disfarçada de rock que anda rolando por ai, acreditem nisso que voces serão felizes, no que depender da música, naquilo que a música tem e que pode fazer alguém feliz. E preste atenção nesse disco porque é muito bom, e tem um puta som de guitarra, rsrs.
Rolando Castello Junior – Agradeço a oportunidade de falar e divulgar a musica, dessa grande banda que foi o Inox, faço minhas as palavras de Joe Perry,”…let the music do the talking…”
Muito obrigado e forte abraço aos boys da banda.
Sucesso e Obrigado por compartilhar suas idéias conosco e por ter feito um dos melhores shows da minha vida com certeza.
Paulinho Heavy É NOISE !!!
Abaixo um scan do comentário do show do Inox em Ourinhos em um Jornal Local
Música Ranger do álbum de 1986
Categoria/Category: Entrevistas
Tags: Inox • Patrulha do Espaço • Rolando Castelo junior
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