É fato que há muitos anos o Heavy Metal vem largando aquela imagem de um estilo 100% masculino, e mesmo antes dos anos 90, já encontrávamos algumas das mulheres brilhantes que seriam as responsáveis por influenciar muitas das que hoje estão nos palcos fazendo bonito e se destacando, colocando muito marmanjão por ai no chinelo. Com a proposta de homenagear as mulheres que hoje carregam a bandeira do Metal Nacional com muita honra, surgiu a idéia do Metal Grrrlz Fest, evento que ocorreu no último dia 19 de maio, domingo, no Blackmore Rock Bar em São Paulo.
Texto: José Antonio Alves
Fotos: Rhadas Camponato
Reunindo as bandas Marie Dolls, Midnightmare, No Way, Necromesis, Fire Strike e Ecliptyka, o evento mostrou que qualidade é o que não falta para todas essas guerreiras do Metal. E se alguém pensou que teríamos longos atrasos por se tratar de um evento de domingo e com muitas bandas, este com certeza se enganou, pois com um atraso praticamente insignificante, por volta das 17h já tínhamos ação no palco, com as meninas da banda Marie Dolls.
O grupo paulistano composto por Katherine Roiz (vocais), Renata Petrelli (guitarra), Michele Campos (baixo) e Dany Diniz (bateria) nos apresenta um Rock And Roll calcado em bandas como Alice In Chains, The Runaways, Joan Jett entre outras dos anos 80 e 90 que contam com mulheres na formação. O repertório foi baseado na sua maioria em covers, muito bem executados pelas integrantes, a começar por “Celebrity Skin” (Hole) e “Would?” (Alice In Chains), passando também pela clássica “Love Me Do”, dos Beatles.
Vale destacar também o medley das músicas “I Want You To Rock Me” do Vixen e “I Love Rock ‘N’ Roll” da Joan Jett, que mostraram uma banda bem focada na técnica das músicas e que com certeza reúne um ótimo potencial para fazer muito barulho futuramente. De repertório próprio, e oriundas do EP “Desires My Fall”, lançado este ano, estiveram presentes “True Belief”, “Face Me, Beg Me” e a faixa título do trabalho que encerrou a apresentação, e destacaram o ótimo vocal de Katherine Roiz que acaba não incorporando juntamente com suas companheiras de banda um estilo mais despojado que se esperaria por algumas das influências do grupo, olho nessas meninas!
O interessante em eventos como o Metal Grrrlz Fest é o fato de assistirmos diversas vertentes ocupando o mesmo espaço, e saindo do Rock And Roll e indo direto para o Metal extremo, mais especificamente o Death Metal, a banda Midnightmare subiu ao palco para uma apresentação recheada de petardos da mais alta qualidade. Abrindo com “In The Name Of God” e logo depois emendando “Chaos”, a banda liderada pela baixista/vocalista Simone Luque apresenta um som bem old school, recheado de influências extremas, de forma direta e reta, sem frescuras.
“Behind Of The Agony Mask” do EP de mesmo nome de 2004 e “Sexual Devastation” da Demo “Final Conflict” de 2002, encerraram a enérgica apresentação do grupo que é mais um nome que os fãs da cena extrema precisam ver com atenção, pois o som é composto de sapatada atrás de sapatada, e com um trabalho de guitarra excelente que é fundamental no conjunto do som feito.
Enquanto o palco era preparado para a próxima banda, os presentes conferiam músicas de bandas nacionais e internacionais com presença de alguma integrante mulher, uma ótima sacada para entreter os presentes. Sem delongas, a banda No Way foi a terceira a se apresentar no festival, liderada pela vocalista Diana Arnos e contando ainda com Felipe Ribeiro no baixo, Rodrigo Alves na guitarra e Daniel Bianchi na bateria, o grupo foi uma grata surpresa da noite. Trazendo em seu som influências de bandas como Black Label Society e Testament, o grupo se prepara para lançar este ano “Rising Brutality”, álbum de estréia do quarteto.
Definir o som do grupo com apenas um rótulo é uma tarefa árdua, já que as canções apresentam muitas características peculiares que trazem passagens cadenciadas, bons solos de guitarra e um vocal gutural que completa positivamente o som do grupo. Começando com “March Through The Fire” e “Praying With Bullets”, passando por “Let The Blood Run” e culminando na ótima “Leading Way To Suicide”, o grupo ganhou os presentes e nos deixou na expectativa para o que virá no debut.
Direto do ABC paulista, o Necromesis ficou responsável por fornecer ao público mais momentos de extrema brutalidade com um Death Metal regado a muitas pitadas de Death, Cannibal Corpse e Carcass, só para citar alguns pilares do gênero, sem dúvidas um prato muito bem cheio para os adoradores deste estilo. Com uma demo e um EP lançado, o repertório do grupo foi baseado nestes dois trabalhos, que não contaram com a atual vocalista Mayara Puertas, responsável por trazer para a banda uma potência vocal monstruosa, além de uma performance de palco bem marcante e intensa.
Faixas como “Minustah”,”The Dark Works Of Art” e “Bloody Shadow” despejaram técnica com riffs velozes e precisos, linhas de baixo bem compostas e marcantes além de takes de bateria matadores que mostraram uma banda que está “na pegada” ao vivo e que só nos faz lamentar o fato de ainda não terem registrado um full-lenght para deleite dos fãs e apreciadores da música extrema. Um outro ponto positivo é a ótima presença de palco de todos os membros da banda, sem dúvida é som para quebradeira intensa no moshpit!
Trazendo para o palco influências da escola oitentista do Heavy Metal, os paulistanos do Fire Strike fizeram uma das belas apresentações da noite, com muita vitalidade e despejando virtuosismo em ação. Liderados pela vocalista Aline Nunes, dona de uma voz poderosa, o grupo se prepara para logo mais lançar seu primeiro EP intitulado “Lion & Tiger”. Em um ritmo mais acelerado, “Night Fever” começou a apresentação, seguida por “True As A Dream” e “Streets Of Fire”, faixas que estarão no EP da banda. Menções positivas também merecem ser feitas para “Our Shout Is Heavy Metal”, um som com a cara oitentista que foi bem recebido pelos presentes.
Ainda houve espaço para os covers de “Die In The Night” do Exciter e “Metal Racer”, do Warlock, este último grupo de fortíssima influência no estilo da banda. Já tive a oportunidade de presenciar o Fire Strike em pelo menos três oportunidades, e sem sombra de dúvidas essa foi uma das ótimas exibições do grupo, pelo feeling empregado e a notória alegria dos músicos em fazer aquilo que tanto cultuam que é tocar. Até pelo fato de estarem em plena atividade fazendo shows regularmente, a banda conseguiu obter uma melhora mais que notória ao vivo, resta aguardarmos o resultado deste EP e mais apresentações do grupo por aí!
Para encerrar a noite (no horário!!), a banda jundiaiense Ecliptyka ficou responsável por selar este grande evento. Com o ótimo álbum “A Tale Of Decadence” e aberturas para Tarja Turunen (2011) e The Agonist (2011) nas costas, o grupo vem crescendo e evoluindo desde então, em um som que apresenta influência de diversas vertentes dentro do Metal e que não se prende a um estilo específico. “Hate”, “Splendid Cradle” e a ótima “We Are The Same” foram algumas das faixas próprias executadas com muita competência por todos os músicos, que mostraram uma grande evolução técnica desde o citado show de abertura para Tarja, o qual pude presenciar.
E quando cito a questão de diversidade musical, ela não se aplica somente para os sons próprios, a banda também executou covers bem interessantes, destaque para as ótimas interpretações de Helena Martins e cia para os clássicos “The Show Must Go On”, do Queen e “Hallowed Be Thy Name” do Iron Maiden, além da música “Love Bites(So Do I)”, essa de um grupo mais contemporâneo, os estadunidenses do Halestorm. “Why Should They Pay” encerrou a apresentação de uma banda bem entrosada em palco e que trata de temas bem interessantes em suas letras, como guerras, corrupção e maus tratos aos animais, entre outros. Esperamos poder conferir brevemente o que virá no segundo álbum deste ótimo nome da cena paulista.
É fácil organizar um evento com bandas de Metal no Brasil com competência? Não, de fato. Porém com força de vontade, bom senso e organização as coisas podem fluir, e assim deixamos de exemplo esta primeira edição do Metal Grrrlz Fest. Bandas no horário, som muito bom, e mesmo com um público não tão numeroso, valeu muito a pena para todos que lá estiveram. Uma bela homenagem para as mulheres que embelezam o Rock/Metal com seus riffs, viradas de bateria, solos, agudos, guturais, e ótimas presenças de palco. E que se rompam de uma vez por todas as barreiras do preconceito que ainda possam existir sobre o potencial que todas essas mulheres possuem, pois elas são parte fundamental nesse tão extenso movimento chamado Heavy Metal.
Bandas:
Marie Dolls – www.reverbnation.com/Mariedolls
Midnightmare – www.myspace.com/midnightmaredmb
No Way – www.brnoway.com
Necromesis – www.myspace.com/necromesisdeathmetal
Fire Strike – www.myspace.com/firestrike80
Ecliptyka– www.ecliptyka.com
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Tags: festival mulheres • metal • Metal Grrrlz Fest • rock
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