Therion: Entrevista com Christofer Johnsson, guitarrista e líder da banda
Postado em 07/05/2014


“A essência do Therion é não ter limites”
Christofer Johnsson

Christofer Johnsson é um compositor sueco nascido em 1972. Fundou o Therion em 1987 e é o único membro que permaneceu na banda. O Therion inicialmente se enquadrava em Death Metal, porém ao longo dos anos adquiriu características clássicas,  sendo hoje considerada uma das principais bandas no cenário de Metal Opera mundial. De forma livre, descontraída e irreverente, ele nos conta sobre as mudanças estruturais da banda, a experiência de produzir o álbum Les Fleurs Du Mal sem o apoio da Nuclear Blast, o show no Brasil em 2012, o DVD Adulruna Rediviva and Beyond e por fim deixa uma mensagem exclusiva para A Ilha Do Metal aos fãs brasileiros. Confira abaixo:

Por Grazi Bonizi

A Ilha do Metal: Em primeiro lugar, gostaria de fazer algumas perguntas sobre as mudanças estruturais ao longo da história do Therion. Você acredita que ser o único membro de formação e ter trabalhado com músicos contratados ajudou ou prejudicou a evolução da banda?

Christofer Johnsson: Eu acho que ajudou, porque isso dá mais flexibilidade. Poder contratar diferentes cantores definitivamente abriu diversas oportunidades interessantes e brilhantes para a banda.

A Ilha do Metal: Você planeja ter mais membros permanentes? Ou está completamente satisfeito com o elenco atual?

Christofer Johnsson: Nós não planejamos, só vemos onde os caminhos nos levam. Alguns dos instrumentistas podem ser permanentes, mas com os cantores prefiro ser mais flexível. O cantor deve possuir uma voz que você possa usar sempre, como um soprano ou tenor clássico. Se fosse outro tipo de cantor eu não gostaria de correr esse risco. No momento acho perfeito ter dois cantores permanentes, um homem e uma mulher com estilo clássico, e como às vezes precisamos de diferentes tipos de cantores ao vivo e para as gravações, contratamos o restante conforme a necessidade.

A Ilha do Metal: Quão complexo é adaptar as músicas para um novo elenco cantar e tocar ao vivo quando elas foram planejadas no estúdio?

Christofer Johnsson: Não é difícil. Nós trabalhamos com cantores bem profissionais, eles ouvem as gravações e fazem suas versões delas. Se fosse difícil, estaríamos trabalhando com as pessoas erradas.

Christofer Johnsson

“Não há nada me impedindo de fazer o que eu quero.”
Christofer Johnsson

A Ilha do Metal: Você sente falta de cantar?

Christofer Johnsson: Se eu sentisse falta de cantar, eu cantaria (risos). Não há nada me impedindo de fazer o que eu quero. Não sinto nenhuma falta, estou muito feliz com os cantores profissionais.

A Ilha do Metal: Dentre todas as mudanças que ocorreram, o que pode ser considerado como a essência do Therion?

Christofer Johnsson: É difícil definir o Therion dessa forma. Eu não teria como predizer o desenvolvimento da banda, às vezes é mais clássico, às vezes toma outra direção. O último álbum foi uma novela francesa (risos), digo, quem poderia prever isso? O Therion sempre foi o que quer que eu sentisse no momento, soava Death Metal porque era como eu sentia nos anos oitenta. Outros integrantes podem compor músicas, mas eu faço uma espécie de base que é utilizada nelas. Nós apenas fazemos coisas diferentes. Não somos limitados por cantores e músicos específicos como outras bandas, nós temos membros permanentes, mas podemos contratar orquestras, pessoas que toquem outros instrumentos, como harmônica e arcodeão. Acredito que a essência do Therion é não possuir limites. Enquanto for música, e eu pessoalmente achar que é boa, está tudo bem.

A Ilha do Metal: Certo… Agora algumas perguntas sobre Les Fleurs Du Mal. Por que você acha que a Nuclear Blast não foi favorável à produção deste álbum? Quais foram os elementos que causaram os conflitos?

Christofer Johnsson: É muito claro. Primeiro, eles não gostaram do álbum, e isso não é o fim do mundo, mas a razão principal foi: quando você faz um álbum cover, você pode precisar de permissão para isso. Nos Estados Unidos é muito simples, você grava e quem quer que tenha escrito as músicas recebe a grana e pronto. É o caso na maior parte da Europa, com exceção da França. Lá, para fazer uma música cover, na teoria você precisa de uma permissão escrita. Na prática, se você quiser fazer um cover de uma banda de metal que seja sua amiga, você simplesmente faz, eles não farão alarde por isso. Mas às vezes, quando se trata de uma música antiga pertencente a alguma gravadora, ou quando por exemplo é uma música pop fofinha e aparece uma banda de heavy metal malvada fazendo uma versão dark dela, eles podem se opor a isso, e você precisará da permissão escrita.
Nós gravamos 15 músicas, e a maioria possui mais de um autor, podendo ser um ou dois escrevendo a melodia e um ou dois escrevendo a letra. São muitas pessoas que você precisa falar para ter uma permissão escrita, e muitas delas são idosas, algumas apenas escreveram uma música na vida e nem são famosas. Tentar achar todas essas pessoas é muito complicado, e a maioria sequer fala inglês. Às vezes são os pais, filhos ou viúvas dos autores que herdaram os direitos, e se alguém viesse falar “Hey, nós gostaríamos de fazer um cover da música do seu pai” eles não saberiam se ela vale dez ou dez mil dólares, então precisaríamos de advogados e seria um circo total.
Eu tentei conseguir o direito às músicas, e me levou quatro meses no caso das maiores gravadoras. Basicamente o que aconteceu foi que eu aparecia na porta de uma gravadora e dizia “Olá, eu gostaria de dar dinheiro a você e ao seu cliente, pode ser?” e eles me deixavam esperando por meses.
Então eu entendi completamente o que a Nuclear Blast quis dizer, o inferno que seria conseguir todas essas permissões. Minha solução foi não lançá-lo na Europa, apenas lançá-lo nos EUA, e daí importar a versão americana e distribuí-la na Europa para passar por cima de toda essa bobagem francesa.
Mas isso custou dinheiro. Se o estoque de uma loja acaba, seriam dois dias para a entrega de outras mil cópias se a distribuidora fosse na Europa, porém, por ser nos EUA, levavam duas semanas. É pouco profissional não ter cds para distribuir se eles vendem bem, então foi complicado.
Logo, foi uma decisão mútua. Eles ficaram aliviados por nao precisarem encostar nisso, e eu fiquei feliz por poder fazer o que eu queria.

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A Ilha do Metal: O álbum está dando o resultado esperado, tanto no aspecto financeiro como em aceitação pelos fãs?

Christofer Johnsson: Eu não gastei um dólar sequer para promovê-lo. Eu me apoiei completamente no fato de que as pessoas ficariam tão chocadas sobre esse álbum que falariam sobre ele, e pessoas falando é a melhor promoção que existe. Ano passado consegui de volta o valor do empréstimo e até ganhei certo lucro, então foi bom.

A Ilha do Metal: Sobre o show no Brasil em 2012: Como parte da comemoração do 25º aniversário da banda, o Therion veio ao Brasil e tocou num teatro que nunca havia recebido eventos de heavy metal (Teatro Abril), em que os fãs, não acostumados a isso, tiveram que permanecer sentados. Dessa vez vocês irão se apresentar num local apropriado para eventos de Metal, porém há alguma diferença para você em fazer shows em teatros ou casas de shows comuns?

Christofer Johnsson: O som é muito melhor em teatros, até porque eles são construídos para ter uma boa acústica. Eu sei que muitos fãs preferem casas de shows porque eles podem pular, cantar, beber cerveja e etc, e não ficam muito felizes em permanecer sentados em teatros. Eu gosto de ambos as coisas, mais ainda prefiro teatros pela questão sonora, porém quem decide o local na verdade são os promotores que compram o show.

A Ilha do Metal: Como foi a experiência de tocar inteiramente o album “The Secret of the Runes” naquele ano?

Christofer Johnsson: Foi muito bom e interessante. Quando nós lançamos este álbum ele foi considerado um fracasso pela gravadora, muitos fãs reclamaram que foi falho e bla bla bla, e dois anos depois, foi considerado um clássico, como outros discos que fizemos. Os fãs reclamam que o disco mais recente é ruim, e cinco anos depois “Oh! É um clássico”. Mas este álbum realmente se tornou um favorito, então é interessante como algo que foi tão criticado no início possa ter se tornado um dos mais queridos pelos fãs.

A Ilha do Metal: A banda lançou o DVD “Adulruna Rediviva and Beyond” neste ano, que contém dois shows completos. Como foi a recepção dos fãs?

Christofer Johnsson: Pareceu muito boa. Algumas pessoas reclamaram que o som não estava muito bom, mas você tem que ter em mente: que tipo de produto se quer fazer? Um autêntico produto ao vivo ou um show com trechos pré-gravados como a maioria das bandas fazem? Nós decidimos fazer tudo ao vivo, e é assim que soa. É isso que eu prefiro em um DVD ao vivo, e fiquei bem decepcionado com muitos dos que comprei ao longo da minha vida, por exemplo um do KISS nos anos 70, que não era um álbum ao vivo, era totalmente falso. Então nós buscamos fazer um produto genuinamente ao vivo.

A Ilha do Metal: No DVD 1, Kali Yuga e Black Funeral são músicas que contém a participação do vocalista Messiah Marcolin, ex-Candlemass. Como ele já participou em shows com a banda antes, o que você pode dizer sobre essa parceria?

Christofer Johnsson: Ele é um velho amigo. Em 92 me convidou para tocar guitarra em seu álbum solo, e já conversamos diversas vezes sobre fazer projetos juntos, entao no 25º aniversário da banda achei uma boa idéia convidá-lo para participar do DVD, até por que a primeira parte do Kali Yuga é bastante inspirada no Candlemass.

Ouça aqui a mensagem deixada por ele aos fãs brasileiros que o aguardam no dia 18 de maio:

 

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