Tore St. Moren: “Estava cansado de tocar com JORN e me repetir”
Postado em 04/04/2014


Tore St. Moren é um dos principais guitarristas noruegueses em atividade quando o assunto é Hard Rock. O músico tem uma longa carreira que incluí passagens pelas bandas Arcturus, Rain, JORN e Street legal, além de ter gravado dezenas de álbuns como guitarrista de sessão.

Em 2013 Tore lançou seu primeiro álbum solo instrumental, “Devilbird”, via Shredguy Records, neste o músico explora uma sonoridade diferente, autoral e mais rica, e que só foi possível após sua saída da JORN, banda na qual tocou por mais tempo e tornou-se conhecido mundialmente.

Atualmente Tore está em estúdio gravando seu segundo álbum intitulado “My Way Or The Highway”. O álbum contará com algumas participações especiais e trará o próprio guitarrista a frente dos vocais em algumas faixas.

No último mês de março, A Ilha do Metal teve a oportunidade de conversar com Moren no Urban Sound Studios, em Oslo, na Noruega, durante um dos intervalos de suas gravações. Na entrevista abaixo você conhecerá um pouco mais desse excelente músico norueguês, bem como mais detalhes sobre o seu novo projeto “My Way Or The Highway” que será lançado no dia 09 de maio deste ano.

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Por Juliana Lorencini
Fotos Jon Løvstad

Em primeiro lugar gostaria de introduzi-lo aos nossos leitores, sendo assim como você começou sua carreira musical?
Tore: Comecei a tocar quando tinha 11 anos, e aos 13 já sabia que seria um músico, então aos 13/14 tocar se tornou uma parte muito importante da minha vida e eu parei de estudar. Onde cresci muitas pessoas se tornaram viciados em drogas, muitos dos meus antigos amigos estavam usando drogas, então minha mãe notou que ao invés de usar drogas, eu estava ensaiando, tocando, mas odiava a escola e a mesma me odiava. Então como ela era uma mulher inteligente, ao invés de me forçar a terminar os estudos, me mantendo na escola e me juntando aos viciados, ela me permitiu parar de estudar e tocar guitarra. O que é algo muito bom para se fazer pelo seu filho, saí da escola e comecei a ensaiar desde quando me levantava pela manhã, essa era sua exigência “se você não vai a escola, então ensaie, ensaie o dia todo”. Então o fiz e após algum tempo percebi “bem, talvez eu deva, precisa de algum dinheiro e quero estar no mundo da música”. Comecei trabalhando como roadie para uma empresa local que era responsável pelos equipamentos em shows de grandes bandas como KISS, AC/DC, Twisted Sister, e assim foi. Quando tinha 17 anos fiz meu primeiro show pago como guitarrista em um clube em Oslo e desde então tenho viajado pelo mundo com bandas tocando guitarra.

“Devilbird” lançado em 2013 foi seu primeiro álbum solo instrumental. Para o segundo você adicionou letras as suas músicas. O que mudou desta vez em relação às letras?
Tore:
 Durante toda minha vida tenho sido um artista e tento ser músico, a razão pela qual fiz “Devilbird” e como um álbum instrumental foi ter deixado meu longo relacionamento com Jørn, estava saturado com a forma como aquela banda soava e tinha muito mais, muito mais música e desafio musical que queria tocar, tinha John Macaluso, ele é meu baterista favorito e temos conversado sobre fazermos um álbum juntos durante cinco ou seis anos antes de eu deixar JORN. Porém nunca tivemos a chance, e tocar com um bom baterista sempre foi um grande prazer para mim como guitarrista, porque quando você fica mais velho, pausas e pequenos detalhes se tornam chatos para tocar numa banda tradicional de Hard Rock.

Você se sente um pouco limitado?
Tore:
 Sim, porque não há nada para tocar contra, nada para fazer uma batalha com. Toquei por um tempo em uma banda chamada Arcturus, com Hellhammer (Mayhem) na bateria, o conheço desde que tínhamos 15 anos e ele sempre foi um ótimo baterista para mim, porque ele é do tipo extravagante e louco tocando, mas ele queria seguir com o Black Metal. Então, John era o único que podia imaginar tocando em um álbum de Hard Rock comigo e que me desafiaria dando todos os tipos de coisas loucas dentro de uma música básica de Hard Rock, por isso tive que o escolher. Quando vim com este álbum, foi porque já tinha escrito um novo álbum instrumental, mas em setembro do ano passado, Jon, o cara alto e careca do lado de fora, veio até mim e fez me fez uma oferta, ele queria ter certeza, por seu sonho e meu que faria um bom álbum de Hard Rock, então ele queria pagar por isso em troca de eu fazer da forma como eu queria.

Mas é você quem está escrevendo as letras?
Tore:
 Sim, comecei a escrever as letras, no começo as duas, três primeiras foram bem fáceis, porque sempre cantei, mas alguns cantores não gostam quando os guitarristas fazem o mesmo, então eles dizem a eles para se calarem e tiram o microfone de perto, e isso é verdade.

Entendo o que você diz…
Tore:
 Sim, e ele me disse “você pode cantar!”, ele me ouviu cantando backing vocals em duas bandas e disse “você pode cantar, se vou pagar por esse álbum, você tem que cantar!”.

O que é ótimo! Tore: Sim, é um presente, e então quando fiz as três primeiras letras para as novas músicas, meio que esvaziei, não existia mais palavras, mas no último álbum do JORN que participei, “Bring The Heavy Rock To The Land”, tivemos um escritor inglês para as letras, Frank, ele tem feito letras para o UDO por muitos anos e trabalhou nas letras para aquele álbum da JORN, nos tornamos amigos no estúdio, então quando me senti vazio para o meu novo álbum, chamei Frank e disse “Por favor, me ajude!” e ele disse “Sem problemas!”, então ele começou a escrever.

Então será uma mistura entre letras suas e dele?
Tore:
 Sim, e minha irmã escreveu duas letras também.

Você também trouxe para cantar nesse álbum Ricky Altz (Masterplan) e Åge Nilsen (ex-Wig Wam, Ammunition). Como  os escolheu para o álbum?
Tore:
 Nunca me encontrei com Ricky antes de nos conhecermos no estúdio há duas semanas, mas nos conhecemos no facebook há um ano, talvez, através de amigos. Ouvi sua voz e estava pensando “Hey, tenho uma música nesse álbum que não consigo cantar, é algo bem Yngwie Malmsteen final dos anos 80” e pensei que ele seria o melhor para fazer isso. Então o tive para cantar uma música, e quando ele esteve aqui, me deixou maravilhado, com isso tive que pedi-lo mais uma música e ele veio aqui ontem e cantou em outra música para mim.

Então ele cantará em duas faixas, o que é ótimo, ele é um excelente vocalista!
Tore:
 Sim, ele é um cara louco, mas muito legal e um grande vocalista. Um vocalista muito subestimado, acredito. Existem muitas pessoas que nunca se quer ouviram sobre ele. Ele nunca tocou na Noruega, sabia?

Agora ele está cantando no Masterplan, talvez mais pessoas vão ouvir a respeito dele.
Tore:
 Espero que sim, porque ele é um grande vocalista. Sobre Åge, foi no começo da minha carreira, quando tinha 20 anos. Fui contratado como guitarrista para um projeto no qual ele estava, para um canal de TV norueguês, nós excursionamos juntos por três anos e está foi a única coisa que fizemos juntos de verdade, mas nos mantivemos amigos e nossos destinos se cruzaram há dois meses, então perguntei a ele se poderia gravar uma faixa do meu álbum, e ele sim que sim, com tanto que eu gravasse uma para o álbum dele. E agora nós estamos trabalhando juntos nisso.

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As gravações do novo trabalho são feitas em live studio, o que não é tão comum. De que maneira você considera que esta forma de gravar muda a atmosfera do álbum?
Tore: 
É bem diferente, mas a resposta é bem fácil, gravei aproximadamente 35 álbuns até hoje, e em alguns desses trabalhos nunca conheci os demais músicos envolvidos, pessoas me enviam arquivos e me pedem para compor a guitarra, então sento na minha sala com meu computador e quando envio os arquivos de volta, o artista ou produtor começam a modificar, construindo novas partes ou mudando o que fiz, e estou realmente cansado disso. O mesmo acontece com os outros caras, eles tem participado de muitas gravações, John já gravou 400 álbuns e nenhum deles soa como ele. Acredito que o único álbum o qual ele tem orgulho em sua carreira é “Burn the Sun” (JORN), porque mostra o que ele é capaz de fazer. E agora ele é muito orgulhoso deste que estamos gravando, porque ele pode vir ao estúdio com a banda e eu nunca disse para nenhum deles “Pare! Pare! Você tem que fazer desta forma!”. Os convidei para tocarem do jeito deles, essa foi a razão pela qual os escolhi.

Quais são os músicos que estão gravando com você?
Tore:
 John Macaluso, bateria, Nic Angileri, que também tocou baixo com JORN e Espen Rogne como guitarrista. Ele nunca tocou em nenhuma outra banda, completou 20 anos recentemente, mas toco com ele há dois anos em uma banda local e ele é o futuro dos guitarristas noruegueses!

Conversamos um pouco sobre JORN anteriormente, onde você tocou por alguns anos. Ano passado você anunciou sua saída, e eu gostaria de saber quais foram as razões que te levaram a deixar a banda. Tore: Basicamente estava cansado de tudo, estávamos viajando por muitos anos, sempre fazendo turnês, sempre repetindo, repetindo e repetindo. E como disse, gosto de tocar com bons bateristas, e Jørn não tinha um bom baterista, então disse a ele que o baterista deveria sair da banda ou eu sairia.

Mas você sabe que o baterista deixou a banda logo após você?
Tore:
 Sim, a banda toda o deixou.

O que é algo bem interessante, não?
Tore:
 Sim, eu não vou adicionar muito a isso, mas fui o primeiro a deixá-lo e depois disso ele teve mais três bandas sob o nome JORN e todos o deixaram.

Com JORN você teve a oportunidade de tocar no Brasil. Como foi essa experiência para você e quais lembranças têm de lá?
Tore:
 Foi lindo, e quero voltar, de verdade! São Paulo é a maior cidade a qual já estive. Você é de São Paulo?

Sim, eu sou!
Tore:
 Muito legal, lá é muito bonito! Toquei no HSBC com Mr. Big e foi muito legal, as pessoas eram realmente loucas. Foi ainda mais legal porque eu não sabia muito bem o que esperar, Jørn ganhou alguns fãs por causa do Avantasia e Masterplan, mas quando estava lá tinha cem pessoas em frente a mim cantando meus solos de guitarra. Comecei a chorar no palco, porque aquilo foi muito! Foi a melhor coisa que já vivi e no dia seguinte no Carioca Club o mesmo aconteceu.

Mas as pessoas que estavam no Carioca Club eram de fato fãs da JORN e conheciam todas as músicas. Não estou tomando partido do meu país, mas os fãs de lá são mais animados em comparação a outros países.
Tore:
 Eu sei! (Risos). Porque as pessoas aqui as pessoas assistem aos shows assim, de braços cruzados, dizendo “aquele foi um erro, isso não soa como no álbum”, eles não curtem o show, analisam. Eles não escutam a música em si, e isso é o que acho errado nesse jeito moderno de se fazer música. Tudo é uma analise.

Tore Moren / Jorn - Sweden Rock 2010

Você acredita que os fãs, de forma generalizada, esqueceram como curtir um show e em maioria comparecem apenas para verificar se tal artista é tão bom ao vivo quando no cd?
Tore:
 Muitos fazem isso, especialmente nessa parte do mundo. Eles estão apenas interessados em saber se música soa como no álbum ou melhor, o que significa como no cd, apenas mais alto.

Não estão interessados em algo mais ou na energia que se pode obter em um show.
Tore:
 Não, eles não interessados nisso. É por isso que temos TV shows como Idols, The Voice, The X-Factor e coisas do gênero que usam corretores na Tv, desta forma ninguém cantará fora do tom. Eles usam auto tunes na TV ao vivo, o que me faz perguntar: Não existe mais ninguém tocando de verdade?

E você ainda tem algumas bandas famosas fazendo playback ao vivo.
Tore:
 Odeio isso! É algo que jamais irei fazer! Em duas semanas tocarei com Dee Snider em Oslo, todos os ingressos estão vendidos e tocaremos para 20 mil pessoas. Nós tocaremos ao vivo! Ele poderia facilmente fazer playback, mas ele quer fazer ao vivo.

Mas ele é profissional!
Tore:
 Sim, e ele espera o mesmo de mim quando subimos no palco juntos. Muitas pessoas apenas contratam você para não fazer nada, para posar. E isso é algo que nunca farei.

Já que estamos falando sobre shows, depois do lançamento do álbum você tem planos para uma turnê, pelo menos pela Escandinávia?
Tore:
 O show de lançamento do álbum será em Oslo, depois tenho mais um confirmado na Bélgica com Red Dragon Cartel, mas ainda estou aguardando para saber se conseguiremos excursionar por uma semana inteira com eles. Estaremos em turnê do dia nove de maio até primeiro de junho, só precisamos acertar algumas datas.

Você tem alguns outros projetos, como Street legal, uma banda que eu por sinal gostaria de ver ao vivo.
Tore:
 Sim, mas infelizmente estão todos parados, porque meu foco é o novo álbum. Porém o outro guitarrista do Street Legal está vindo para o estúdio agora e você poderá conhecê-lo, mas não temos shows em vista. (risos).

Muito obrigada pela entrevista e boa sorte com o novo trabalho!
Tore:
 Muito obrigada e espero vê-la de novo em breve, mas no Brasil!

Assista ao vídeo de “The Day We Met”,  primeiro single de My Way Or The Highway:

Assista ao teaser de “Do You Like It“ novo singe de Åge Sten Nilsen com a participação de Tore St Moren:

Confira agumas fotos de Tore St. Moren no Urban Sound Studios:

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Tore Moren - Åge Sten Nilsen

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