Aqui o relato de um headbanger fanático que resolveu cruzar o mundo para assistir alguns festivais no velho continente (Europa).

O que dizer sobre o maior festival de metal do planeta? Como muitos podem imaginar, é algo inexplicável e não é possível mensurar tamanha grandiosidade. Mas primeiramente vamos relatar os aspectos estruturais e eventuais.

Resenha e Fotos: Vinícius Starteri

Ao chegar em Wacken, você já é estritamente recebido pelo cidade onde informa em uma grande frase bilíngue (Alemão e Inglês) “Welcome to the Heavy Metal Town” ou em português “Bem vindo a cidade do Heavy Metal”. O mais impressionante de tudo é que não é apenas um evento, isso gera diversas oportunidades para toda a região noroeste da Alemanha com uma grande ênfase no turismo e compra. Um grande exemplo é a cidade nas proximidades de Wacken chamada Itzehoe, essa pequena cidade faz uma “interconexão” de ônibus com o festival e contém diversos tipos de comércio, e fica bem movimenta na semana do festival.

A cidade de Wacken se organiza exclusivamente ao festival, com o pequeno mercadinho da cidade repleto de engradados de diversos produtos e o mais impressionante é que os preços sobem pouco (daí a grande honestidade do povo Alemão, não supervalorizam os produtos porque está acontecendo um festival na cidade). Diversos “streetmarkets” com produtos essenciais para camping e para sua estadia na cidade, contendo inclusive produtos para lazer como piscinas portáteis e até churrasqueira.

Agora falando um pouco sobre o festival, é impressionante como tudo funciona e a organização é impecável. Tudo acontece de acordo com o programado e na hora programada, problemas são contornados em poucos minutos por causa do excelente planejamento, a equipe de segurança e médica é super bem preparada e fazem todo o possível para que tenhamos o suporte necessário para o festival. E apesar da gigantesca área de camping, tudo é organizado de forma que facilite os headbangers para a melhor estadia nestes 5 dias de festival (pode ser extendido em até uma semana, caso queira chegar antes).

Primeiro dia de shows, fora o muito movimento para os germânicos, onde diversas bandas do Metal Battle e algumas da região fizeram suas apresentações no festival. Eu apenas assisti três shows, da dupla LOS VAGABUNDOS onde fizeram um ótimo concerto instrumental de violão em um dos pequenos palcos, da banda Dunkelschön (que não me agradou muito) e da excelentíssima banda FAUN que fez uma ótima apresentação no palco WACKINGER (palco das bandas Folk no festival).

O segundo dia de shows foi simplesmente impecável e surreal, a banda Skyline (banda do dono do Wacken) iniciou os shows de forma esplendorosa em um dos palcos principais do festival. Em seguida, tivemos o show do famoso Bülent Ceylan que foi muito bom e um aperitivo para o show explendido do Hammerfall que foi repleto de pirotecnias e fumaças no palco.

E sobre o que dizer do som? Simplesmente surreal, normalmente começa pouco equalizado, mas em poucos segundos já é ajustado pra soar da melhor forma possível, até parece que você está com o fone da melhor qualidade do mundo em seus ouvidos.

Em seguida, ótimas apresentações de Steel Panther no True Metal Stage, onde ocorre o habitual “topless” dos shows, logo em seguida uma apresentação de mágica por dois irmãos germânicos famosos na Europa pelo seu ilusionismo (não me recordo o nome agora) e para finalizar a noite, simplesmente duas apresentações impecáveis das lendas Saxon (no Black Metal Stage) e da banda Accept inaugurando a turnê de seu novo álbum intitulado Blind Rage (no True Metal Stage).

A madrugada é um pouco gelada, porém o frio noturno do verão europeu mais parece um dia habitual de outono no Brasil (excluindo os ventos, isso faz com que não seja tão frio). A terra simplesmente bem preparada para o camping faz com que seja extremamente simples fincar os metais para segurar a barraca, e o ótimo gramado, faz com que você se sinta em um pequeno colchão.

Agora meu principal relato, sobre o segundo dia de shows, onde iniciei as atividades logo cedo pelo motivo dos shows que eu gostaria ver começavam logo a meio dia (os shows normalmente começam as 11h da manhã na maioria dos festivais europeus e terminam entre 1h e 3h da manhã).

Alguns amigos foram assistir o show da famosa banda coreana CHTHONIC, porém resolvi me alimentar bem e procurar algumas besteiras pela cidade de Wacken e Itzehoe, onde achei diferentes tipos de refrigerantes dentro de uma loja de 1.99 chamada TED (famosa rede pela Alemanha). Fica a dica para pessoas que querem comprar coisas e economizar dinheiro, comprei diversas meias por 2 euros (cerca de 5 pares), um chinelo por 1 euro, uma ótima mala de viagem por 25 euros e diversas “Coca-Cola” de sabores Vanilla (Baunilha) e Cherry (Cereja), a de sabor Baunilha é simplesmente fenomenal.

Ah, antes que eu esqueça, o “shuttle bus” de Wacken para Itzehoe subiu para 10 euros, porém se você guardar o ticket, poderá usar em todos os dias que estiver no festival.

Voltei às 13 horas para o Wacken, deixei as coisas em minha barraca e fui começar minha série de shows pelo festival. Às 14:15 pontualmente subia ao palco a nova sensação do metal americano, a banda Five Finger Death Punch, o show simplesmente indescritível, uma ótima dica para pessoas que apreciam o famoso Groove Metal americano.

Após o término do 5FDP (sigla para Five Finger Death Punch) me dirigi rapidamente para o palco menor ao lado dos principais, o palco Party Stage, onde a grande banda HELLYEAH se apresentou. E apesar do cancelamento do show deles no MONSTERS OF ROCK em 2013, estive representando o Brasil na grade e mostrando que existem loucos assim como eu para assisti-los por aqui.

Na terceira música, Vinnie Paul viu que eu estava com a camiseta do Brasil e que eu estava agitando todo mundo no show, me jogou sua baqueta, e com êxito consegui pegá-la. E o que dizer sobre o show deles? Para todos que aguardam a apresentação deles pelo Brasil, sugiro que vão para o show, uma das melhores apresentações que assisti em todo o festival.

Após o término do show, me dirigi correndo de volta ao TRUE METAL STAGE para a apresentação da famosa banda de melodic death metal/metalcore HEAVEN SHALL BURN. É simplesmente insano ver a paixão dos alemães pela banda, a banda promove um mosh pit insano para nenhum headbanger colocar defeito e o show é simplesmente um absurdo, diferente dos shows que já ocorreram no Brasil, lá eles utilizam grandes cenários e muita pirotecnia.

Na música Valhalla, um cover em dedicação a uma das bandas mais idolatradas na Alemanha, o Blind Guardian, fez com que a apresentação se encerrasse de uma forma inexplicável de tão excelente que foi o show.

Sem delongas, ao término do show, fui correndo para o BLACK METAL STAGE assistir uma das minhas bandas favoritas, a banda finlandesa CHILDREN OF BODOM. Como assistiria eles mais uma vez na República Checa, resolvi curtir o show mais de trás e aproveitar para realizar diversos (16 mais exatamente) “crowd surfing”, onde é só você pedir para alguém grande te levantar que você é levado pela galera. Foi algo simplesmente surreal, onde pude conferir de perto a banda, interagir com os membros após o “crowd surfing” e ainda por cima ver tranquilamente o show (sim, mesmo que você esteja longe, a visão é excelente e o som é perfeito até pra quem está a 200m de distância do palco próximo das barracas de comida).

Depois de muita correria e extremo desgaste físico, me dirigi até as barracas de comidas (tem para todos os gostos com gastronomia do mundo inteiro). Os preços não são lá tão amigáveis, porém com apenas 5 ou 6 euros você consegue se alimentar extremamente bem e com 5 euros comprei simplesmente um Kebab gigantesco (comida típica árabe).

Como seria um show mais tranquilo, resolvi voltar para o camping e relaxar com os amigos no show do Apocalyptica + Orchestra, pois logo em seguida seriam shows um pouco mais longos e exaustivos.

Depois de praticamente 1h relaxando, voltei para o “INFIELD” para assistir os shows. Agora pra uma apresentação um pouco contestada porém de excelente qualidade do Motörhead, onde o Lemmy demonstrou bastante persistência apesar de seu péssimo estado físico.

Às 22:30 pontualmente subia uma das melhores apresentações do Wacken, a banda SLAYER, onde realizaram um setlist impressionante, com diversas pirotecnias e um esquema de luzes pra lá de formidável. Mas uma coisa que percebi é que apesar de toda imagem de brutalidade da banda, o SLAYER não fez mosh pits tão insanos quanto ao show de HEAVEN SHALL BURN.

Logo em seguida, o show mais esperado da noite por diversos headbangers e creio que seria o sonho para muitos e muitos brasileiros. O saudoso KING DIAMOND subia ao palco com toda sua encenação e com um vocal extremamente perfeito, nada de agudos extremos igual ao seus álbuns (isso foi um ponto que fez apreciar ainda mais o show por ser uma pessoa meio cética no ponto de vista do show). O som simplesmente estonteante fez com que diversas pessoas pirassem ao som de cada música e de cada novo cenário contado durante o show. E na minha humilde opinião, junto do Amon Amarth, foi o melhor show de todo o festival.

Ao término do show, o esgotamento era notável e tive que voltar a minha barraca para tomar um banho e deitar (o chuveiro é ruim pelo motivo de ter que ficar pressionando o botão para sair água, porém é quente e tem um jato forte) e fica mais uma dica, caso vá tomar banho, vá a noite após algum dos últimos shows, pois é vazio pelo simples motivo que europeus culturalmente tomam banhos durante a manhã.

Infelizmente, apenas vi um pouco do show do W.A.S.P. pelo telão de minha área do camping e dormi ao som de Black Lawless cantando (após esse dia extremamente corrido, não sei como tive tanta energia para o último dia de festival).

No sábado, a correria foi praticamente a mesma, começando os shows logo cedo. Pontualmente às 12:00 subia ARCH ENEMY no Black Metal Stage e o PRONG (show que eu assisti) no Party Stage. Este show pode se englobar entre o top 5 de shows do festival, ótimo show para ninguém colocar defeito.

Em seguida fui para as apresentações de SODOM, BEHEMOTH, THE DEVIN TOWNSEND PROJECT, EMPEROR (apresentação especial e uma das únicas pela Europa) e foi simplesmente fabuloso o show destes ícones do Black Metal, AMON AMARTH, MEGADETH, KREATOR e SCHANDMAUL.

No último dia infelizmente perdi AUGUST BURNS RED, HATEBREED, J.B.O., DECAPITATED, THE OCEAN, DEGRADEAD, FLESHGOD APOCALYPSE e CREMATORY pelos conflitos de horários com os shows que assisti. Porém algumas delas eu assisti em outro festival europeu, o Brutal Assault no norte da República Tcheca (esse festival relatarei em breve aqui no site).

No show do MEGADETH, você poderá conferir eu na grade com a bandeira do Brasil na “selfie” do facebook do Dave Mustaine. E o outro grande relato é sobre o gigantesco circle pit do Kreator, onde tive o prazer de participar e ainda fazer meus últimos “Crowd Surfing”.

Minha consideração sobre o festival? Um dos melhores passeios que fiz na vida e pretendo repeti-lo muitas e muitas vezes, se possível retornar em 2015 mesmo para dar meu novo relato sobre esse excelentíssimo lugar. Você acha que tem que mudar algo? Bem, ao meu ver está quase tudo 100% igual a um sonho, único problema mesmo é de ter que segurar o botão do chuveiro para tomar banho. Ah é, fiquem espertos, dentro do Wacken não é como no resto da Alemanha então fiquem espertos com o troco (pois algumas barraquinhas de comida me roubaram e tudo totalizou um prejuízo de 2 euros, que pode parecer pouco, mas isso faz a diferença em uma viagem de 15 dias pela Europa).

Outras dicas que eu dou é procurar um lugar de boa localização e com bom solo dentro do camping (apesar que quase todo lugar o solo é bom), procure artigos como mídia (CD’s, DVD’s e LP’s) e algumas roupas bem no começo do festival, pois o preço é bem mais em conta e você terá mais facilidade de achar o que procura e se possível, leve cadeados para sua barraca e mochila que terá os pertences mais valiosos, apesar de o índice de roubo ser extremamente baixo, é bom se manter precavido destas possíveis dores de cabeça. Para pegar grade em shows não exige muita dificuldade (tirando os shows principais), basta chegar com antecedência de 1 show (ex: Você quer ver a banda Z no Black Metal Stage, assista a banda X no Black Metal Stage na segunda ou terceira fileira que após o término a maioria das pessoas vai para o outro palco pra ver a banda Y e você pega a grade para a banda Z).

E a última dica para os mais “mãos de vaca”, procure por latinhas e garrafas plásticas para reciclar nas lojas ou nas máquinas. A média é de 25 centavos de Euro por garrafa e 30 a 50 centavos por latinha, um amigo juntou 90 euros só com reciclagem e pagou toda a alimentação dele do festival com a grana de reciclagem.

Em breve farei meu relato de um dos festivais mais extremos do mundo, o Brutal Assault, que por sinal ocorre no mesmo final de semana de dois ótimos festivais e um deles de música extrema, o Party San Open Air e o Getaway Festival.